Num dos textos que li acunciando o
cancelamento da Indy em Brasília, constava que a organização da
categoria se sentia decepcionada com o repentino anuncio.
Particularmente, acho que se trata de uma vergonha e não de uma
decepção.
Vão longe os tempos em que o nosso
bi-campeão Emerson ingressou no automobilismo americano, renasceu
como piloto profissional, e brilhou mais uma vez numa categoria de
ponta internacional. Naquela época, mesmo sabendo-se que os carros
da Indy eram mais lentos que os F1, a categoria era uma atração
para os brasileiros que experimentaram uma ansiedade particular por
vitórias do campeão.
A categoria fez um público
considerável no Brasil, e até a transmissão foi um diferencial
pois, era uma alternativa para a monotonia da transmissão a F1. Os
ovais passaram a ser assuntos dos comentários dos torcedores
brasileiros e ainda antes de Emerson se aposentar a Indy teve uma
etapa brasileira inserida no calendário. Era a primeira vez que a
categoria vinha para as nossas terras, num famoso autódromo, do qual
restam hoje apenas fotos.
O tempo passou e a prova do Rio não
vingou e anos depois veio para São Paulo. Mais uma vez tivemos a
esperança de termos um evento diferente. Uma prova em circuito de
rua, o qual veio a ser o único do Brasil no qual o torcedor poderia
chegar lá de metro. Infelizmente, logo na primeira prova ficamos com
a impressão de que o amadorismo entrou em cena e por pouco o evento
não deu um vexame, por conta da reta das arquibancadas do sambódromo
cujo piso era incompatível com carros como aqueles.
Mais uma vez o evento não permeneceu e
ficamos de novo sem uma etapa do Indy no calenádrio. Tudo parecia
muito otimista com o anuncio da realização da primeira prova da
categoria em Brasília. Houve um pouco de contestação no início
mas afinal chegaram a um acordo e a Indy 300 entrou para o calendário
da categoria como prova de abertura. Até que.....o Ministério
Público entrou no cenário com um despacho contendo um grande número
de considerações que finalizaram com a recomendação de que não
se realizassem quaisquer licitações para reforma do autódromo.
Tudo bem, caso isso tivesse acontecido
bem antes do contrato e não depois de tudo acertado e com
aproximadamente 2/3 dos ingressos vendidos. Vamos nos lembrar que
quem comprou um ingresso quer ver o evento pois foi isso mesmo que
motivou a compra, e que americanos (sim eles compram tambem), encaram
muito mal essas situações. Para nós ainda sobra um prejuízo
adicional no próprio autodromo. Já começaram as obras que,
repentinamente não terão continuidade pois as licitações foram
suspensas, a apenas 30 dias da bandeira de largada. Não termos a
prova, o autódromo vai ficar com cara de ruína e duvido, mas duvido
muitissimo que a categoria volte para o Brasil mais uma vez.
Me custa entender qual a justificativa
de se impedir o prosseguimento dos trabalhos quando os contratos já
estavam assinados e restando apenas um mes para o evento. Me custa
entender porque não apenas o próprio ministério não entrou no
assunto muito antes, e tambem porque devemos aceitar sem
questionamentos a perda de um evento desses num período do ano em
que aumenta o fluxo de turistas estrangeiros. Tambem não sei porque
isso tudo acontece no ano seguinte à realização da Copa do Mundo e
um ano antes da realização das Olimpíadas.
Claro que há argumentos, mas
claramente não há planejamento seŕio. Os americanos vão ler isso
tudo como falta de seriedade. Eles fizeram a parte deles e há uma
outra que é nossa. Eles aceitaram um compromisso e entendem que
devemos cumprir os nossos. Pior ainda é terem escolhido o Helinho
Castroneves para comunicar ao público a decisão. O papel dos
pilotos é apenas pilotar. Decisões das catagorias deles, cabem aos
dirigentes comunica-las.
Enfim, é o que eu chamaria de uma
vergonhosa decepção. Uma que os americanos com certeza não vão
querer viver outra vez. E viva a nossa costumeira mediocridade. E
tambem não nos esqueçamos de acender de vez em quando algumas velas
para o nosso maior defunto esportivo - a automobilismo nacional.