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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Mil Milhas 1966 - Crispim explica o dramático final



No dia 13 de Junho realizou-se em Interlagos a Copa Clássicos de Competição que foi abrilhantada por uma palestra com Brid Clemente e Marinho, conforme esse post aqui.

No dia encontrei várias pessoas conhecidas, entre êles o meu amigo Miguel Crispim Ladeira. De posse do meu gravador mini cassete lhe intimei (no mais amistoso sentido, claro) a me dizer o que aconteceu com aquilo que eu resolvi intitular de o pistão mais famoso da história do nosso automobilismo. E Crispim, muito gentil e atencioso, me dá a sua versão das últimas voltas da antológica Mil Milhas de 1966 quando Jan Balder, tendo no box Emerson Fittipaldi como companheiro de equipe, acabou perdendo a liderança de uma prova ganha e a finalizou na 3a. colocação.

foto: Augusto Sanchez.
( à esquerda um dos palestrantes do dia, Bird Clemente, e Miguel Crispim Ladeira à direita)

Fala Crispim.


- Quem entende um pouco de automóvel vai entender o que estou dizendo. No DKW tínhamos um problema - para conseguir potência tinha que trabalhar com o motor muito pobre. Então trabalhava muito no limite, qualquer faltazinha que desse derretia pistão.

- Nós tínhamos nos nossos coletores de admissão - um carburador duplo e outro cortado - tinha uma base de ferro e nós fazíamos um corpo de borracha e cortávmos a parte de ferro. Aprendemos isso com as Alfas que tinham coletor de borracha. Para que? Para o carburador não vibrar muito, pois vibrando demais não caburava pois vazia bolhas e não dava para carburar.

- Naquela corrida, no final, de tanta gasolina acabou soltando a borracha. Quando acontecia isso a mistura ficava muito pobre. Com mistura pobre superaquecia a câmara e derretia o pistão. Quando derrete um pistão de alumínio, onde vai o alumínio derretido? Na parte mais quente que é a vela. Grudava na vela e fazia uma ponte e a vela começava a falhar. Foi exatamente o que aconteceu na corrida.

- Nós começamos a cronometrar - inclusive o Bob estava no box - para saber se iríam nos alcançar ou não. Quem estava guiando em segundo era o Eduardo Celidôneo. Faltavam 6 voltas, e na nossa cronometragem vimos que em 3 voltas êle iria nos ultrapassar.

- Pensamos que se fosse um problema de vela poderíamos ganhar a corrida. Quem estava guiando nessa hora era o Jan Balder. Eu pedi ao Emerson, que foi lá embaixo antes do Pinheirinho, e deu sinal pro Jan entrar.

- O Jan no box e eu gritava pra êle não desligar para ver qual cilindro estava falhando. Puxei os fios de vela para ver qual estava falhando, e disse para desligar o motor. Troquei a vela, demos a partida, e quando pegou o motor arredondou..

- Fez a hum, a dois e no meio da reta começou a falhar de novo.

Esse era o cilindro da frente?

- Era.

E não tem alguma coisa a ver com o fato do carburador ser cortado?

- Não, não. Nós vimos isso muitas vezes, carburando motor no dinamometro. E de repente acontecia, derretia um pistão. Isso era comum no DKW.

- Se fosse condensador e eu trocasse vela, o carro não sairía do box sem falhar. Nós tinhamos condensador na frente, no distribuidor e colocávamos 3 nas bobinas para o caso de queima de condensador.

- Mas para trocar condensador, se voce deixar um condensador bom e um ruim não adianta. Voce tem que inutilizar o ruim e ligar o bom. Como fazíamos isso?

- Abria a frente do carro, tirava aquela tampa, cortava o fio do condensador e ligava o de cima. Isso demorava muito e nós não fizemos isso, nós trocamos a vela.

- Eu sei o que eu fiz. Essa é a real história.

Um comentário:

Rubens disse...

A versão do Jam Balder é diferente...