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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

É a última

Sempre apreciei uma bike mas em ritmo de passeio. Tive por exemplo uma CB400 82 que tinha um aro problemático que foi redesenhado na 83. Uma moto muito street com um desempenho de passeio mesmo. Acho que não passava de 160 km/h. Sempre andei com essa moto para sentir o vento na cara e apreciar um pouco do mundo à minha volta. Nada de exageros. Se carro eu não piloto nada, imagine uma moto.
Tem talvez uns dez anos que o Leandro Panades, piloto de competição, comprou uma Ninja 7galo batida. No tombo foram para o espaço os espelhos, uma parte da carenagem, mais umas raladas em pedais e manetes. Mas o restante estava ótimo. Faltava além do conserto, um ajuste de carburação.
Nisso eu passo na porta da casa do Júnior e tem uma molecada lá na esquina fazendo, digamos, um warm-up em equipe com o cavalo. O Leandro resolveu divertir todo mundo e levou a moto lá antes de ser internada na oficina para os devidos curativos. Depois de ver todo mundo rasgando a máquina pra lá e pra cá, pedi para dar um voltinha pois fazia um tempão que não andava de moto.
Tem um quarteirão longo aqui perto de casa que acaba numa praça. Saí alí devagar para sentir o manejo da Kawa. Nunca tinha guiado uma dessas e é mais fácil do que parece. O conjunto inteiro foi pensado para acelerar e ela responde a tudo com rapidez e precisão. Inclusive o acelerador.
Ao final desse quarteirão entrei à direita e subi mais 3 quarteirões. Quem anda muito de moto normalmente muda as marchas sem embreagem, principalmente se for motor 2 tempos. As 4 tempos de hoje são muito fáceis de mudar marchas ´no tempo´ porque esses motores são de alta rotação e sobem e baixam bem rápido. Fora isso o câmbio da Kawa é um relógio japonês que compete com os suíços. Solta um pouquinho a corda ao mesmo tempo que dá uma pressão no pedal e a marcha seguinte vem facinho. Aperta o gás instantâneamente e a cavalaria faz o trabalho.
Na volta vim para o mesmo quarteirão longo e tinha um Fiat na minha frente. Entrei à esquerda devagar em primeira e livrei o Fiat na curva.
- Vamos ver como anda.
Enrolei a corda até o fim. Os 4 pistões e os dois comandos mostram na hora porque pedem para acelerar. A manete bateu no encôsto e ao mesmo tempo o giro também. A segunda entrou no susto. A frente aponta um pouco para cima e aí é a vez do câmbio mostrar a que veio. A relação é perfeita para essas aceleradas. A Kawa entendeu aquilo como ordem explícita para disparar. De novo o giro no máximo e terceira. Mas o prazer do passeio já estava no fim. O quarteirão estava acabando cada vez mais rápido. Uma olhada rápida no velocímetro sem descuidar da frente e vejo que marca 90. Milhas! Hora de segurar o pedido sem explicações do motor para acelerar. Mais freio na frente do que atrás e mais uma suspresa. Pneu largo atrás, discos grandes e um equilíbrio de tirar o chapéu, fazem o foguete diminuir rápido a velocidade ao mesmo tempo que afunda. E de repente estou parado na esquina. Encostei ali na calçada sem capacete, luvas ou qualquer outro ítem a mais, pra lá de satisfeito e com o entusiasmo contido. É a última vez. Não quero mais.

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