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sábado, 31 de janeiro de 2015

Indy 300 - Decepção ou vergonha?



Num dos textos que li acunciando o cancelamento da Indy em Brasília, constava que a organização da categoria se sentia decepcionada com o repentino anuncio. Particularmente, acho que se trata de uma vergonha e não de uma decepção.

Vão longe os tempos em que o nosso bi-campeão Emerson ingressou no automobilismo americano, renasceu como piloto profissional, e brilhou mais uma vez numa categoria de ponta internacional. Naquela época, mesmo sabendo-se que os carros da Indy eram mais lentos que os F1, a categoria era uma atração para os brasileiros que experimentaram uma ansiedade particular por vitórias do campeão.

A categoria fez um público considerável no Brasil, e até a transmissão foi um diferencial pois, era uma alternativa para a monotonia da transmissão a F1. Os ovais passaram a ser assuntos dos comentários dos torcedores brasileiros e ainda antes de Emerson se aposentar a Indy teve uma etapa brasileira inserida no calendário. Era a primeira vez que a categoria vinha para as nossas terras, num famoso autódromo, do qual restam hoje apenas fotos.

O tempo passou e a prova do Rio não vingou e anos depois veio para São Paulo. Mais uma vez tivemos a esperança de termos um evento diferente. Uma prova em circuito de rua, o qual veio a ser o único do Brasil no qual o torcedor poderia chegar lá de metro. Infelizmente, logo na primeira prova ficamos com a impressão de que o amadorismo entrou em cena e por pouco o evento não deu um vexame, por conta da reta das arquibancadas do sambódromo cujo piso era incompatível com carros como aqueles.

Mais uma vez o evento não permeneceu e ficamos de novo sem uma etapa do Indy no calenádrio. Tudo parecia muito otimista com o anuncio da realização da primeira prova da categoria em Brasília. Houve um pouco de contestação no início mas afinal chegaram a um acordo e a Indy 300 entrou para o calendário da categoria como prova de abertura. Até que.....o Ministério Público entrou no cenário com um despacho contendo um grande número de considerações que finalizaram com a recomendação de que não se realizassem quaisquer licitações para reforma do autódromo.

Tudo bem, caso isso tivesse acontecido bem antes do contrato e não depois de tudo acertado e com aproximadamente 2/3 dos ingressos vendidos. Vamos nos lembrar que quem comprou um ingresso quer ver o evento pois foi isso mesmo que motivou a compra, e que americanos (sim eles compram tambem), encaram muito mal essas situações. Para nós ainda sobra um prejuízo adicional no próprio autodromo. Já começaram as obras que, repentinamente não terão continuidade pois as licitações foram suspensas, a apenas 30 dias da bandeira de largada. Não termos a prova, o autódromo vai ficar com cara de ruína e duvido, mas duvido muitissimo que a categoria volte para o Brasil mais uma vez.

Me custa entender qual a justificativa de se impedir o prosseguimento dos trabalhos quando os contratos já estavam assinados e restando apenas um mes para o evento. Me custa entender porque não apenas o próprio ministério não entrou no assunto muito antes, e tambem porque devemos aceitar sem questionamentos a perda de um evento desses num período do ano em que aumenta o fluxo de turistas estrangeiros. Tambem não sei porque isso tudo acontece no ano seguinte à realização da Copa do Mundo e um ano antes da realização das Olimpíadas.

Claro que há argumentos, mas claramente não há planejamento seŕio. Os americanos vão ler isso tudo como falta de seriedade. Eles fizeram a parte deles e há uma outra que é nossa. Eles aceitaram um compromisso e entendem que devemos cumprir os nossos. Pior ainda é terem escolhido o Helinho Castroneves para comunicar ao público a decisão. O papel dos pilotos é apenas pilotar. Decisões das catagorias deles, cabem aos dirigentes comunica-las.

Enfim, é o que eu chamaria de uma vergonhosa decepção. Uma que os americanos com certeza não vão querer viver outra vez. E viva a nossa costumeira mediocridade. E tambem não nos esqueçamos de acender de vez em quando algumas velas para o nosso maior defunto esportivo - a automobilismo nacional.