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domingo, 25 de maio de 2014

Indy 500 - Ryan Hunter-Reay vence na ultima volta.


Final de semana com dose dupla de automobilismo, em condições semelhantes. Se em Monaco a primeira metade da corrida foi sonolenta e o final muito ansioso, na Indy 500 foi mais ainda. A primeira metade da prova correu sem nenhuma surpresa na pista, sinalizando a possibilidade de ser uma prova sem yellow flag, coisa muito dificil de se dar, ainda mais na Indy 500.

Para os brasileiros a primeira decepção foi um trabalho bem abaixo do nível da equipe de Tony Kanaan. No pit stop o carro simplesmente não pegou e Tony, o campeão dessa mesma prova no ano passado, amargou 17 voltas parado no box vendo as suas chances simplesmente serem extintas, ao mesmo tempo que retornaria à prova na tentativa de somar pontos.

Na frente os mais rápidos mantinham as suas posições volta a volta, alteradas apenas pelos pits. Depois de mais de meia prova realizada um acidente, na volta 150, deu origem à primeira bandeira amarela. Nos comentários, Felipe Giaffone disse que é habito pensar que uma bendeira amrela chama outra. Nesse caso não chamou outra, mas outras mais, incluindo uma vermelha a poucas voltas do final.

Aí a sorte de Helinho Castroneves começou a ser definida. As chances de vencer pela quarta vez eram muito claras. Mas quem está disputando vitória precisa contar com a possibilidade de uma relargada e nem sempre isso é bem vindo a poucas voltas do final. Na ultima relargada, restando apenas 6 voltas para o fim Hunter-Reay estava na frente seguido bem de perto por Helio Castroneves e Marco Andretti. Na prática os tres tinham chances de disputar a primeira posição e começou aí uma disputa muito acirrada.

Caso tal situação tivesse se configurado a dez voltas ou mais do fim, a possibilidade de brigar pela ponta seria mais favoravel para Helinho. Dificil seria abrir espaço para o concorrente. A poucas voltas da quadriculada o vácuo faz o seu papel nas ultrapassagens, ida e volta. Quem tem o vento na cara não consegue abrir de quem está colado atrás. E assim foi que as ultimas voltas se tornaram as mais eomcionantes numa disputa muito apertada entre Castroneves e Hunter-Reay. Bem que Marco Andretti tentou se aproximar mas não conseguiu. Se tivesse ultrapassado Helinho teria o vácuo de Hunter-Reay à sua frente. Mesmo estando na liderança, Helinho foi ultrapassado por fora por Hunter-Reay na ultima volta.

Festa para o americano e lágrimas para o brasileiro dentro do cockpit, a uma distancia de simples 0.06s. Por conta de um espaço tão ínfimo Helio não conseguiu dessa vez a respeitável marca de 4 vitórias na prova. Mas afirma que vai chegar lá.

Tony Kanaan, que teve a corrida inteiramente comprometida pela equipe, acabou abandonando nas ultimas voltas. A prova teve a participação de Juan Pablo Montoya e Jacques Villleneuve, que temrinaram em 5o. e 14o. respectivamente. A única mulher a participar da prova foi a britanica Pippa Mann, que ficou com a 24a. colocação. Segue abaixo o resultado.

1 - Ryan Hunter-Reay (EUA)
2 - Helio Castroneves (BRA) - 0.0600
3 - Marco Andretti (EUA) - 0.3171
4 - Carlos Muñoz (COL) - 0.7795
5 - Juan Pablo Montoya (COL) - 1.3233
6 - Kurt Busch (EUA) - 2.2666
7 - Sebastien Bourdais (FRA) - 2.6576
8 - Will Power (AUS) - 2.8507
9 - Sage Karam (EUA) - 3.2848
10 - J.R. Hildebrand (EUA) - 3.4704
11 - Oriol Servia (ESP) - 4.1077
12 - Simon Pagenaud (FRA) - 4.5677
13 - Alex Tagliani (CAN) - 7.6179
14 - Jacques Villleneuve (CAN) - 8.1770
15 - Sebastian Saavedra (COL) - 8.5936
16 - James Davison (AUS) - 9.1043
17 - Carlos Huertas (COL) - 12.1541
18 - Ryan Briscoe (AUS) - 13.3143
19 - Takuma Sato (JAP) - 13.7950
20 - Jack Hawksworth (GBR) - 13.8391
21 - Mikhail Aleshin (RUS) - +2 voltas
22 - Justin Wilson (GBR) - +2 voltas
23 - Martin Plowman (GBR) - +4 voltas
24 - Pippa Mann (GBR) - +7 voltas
25 - Townsend Bell (EUA) - +10 voltas
26 - Tony Kanaan (BRA) - +23 voltas
27 - Ed Carpenter (EUA) - +25 voltas
28 - James Hinchicliffe (CAN) - +25 voltas
29 - Scott Dixon (NZL) - +33 voltas
30 - Josef Newgarden (EUA) - +44 voltas
31 - Charlie Kimball (EUA) - +51 voltas
32 - Buddy Lazier (EUA) - +113 voltas
33 - Graham Rahal (EUA) - +156 voltas

Monaco - "You are amazing" (Nico Rosberg)



"Voces são incríveis", foi a frase usada por Nico Rosberg no rádio para comemorar com a equipe a vitória no GP de Monaco hoje. Fez barba, bigode e cabelo na prova mais tradicional da categoria, onde milionários estacionam seus iates na baía e assistem à corrida em cima do heliponto do barco. Monaco é uma festa na categoria e não tem as caracteristicas tradicionais de uma pista de automobilismo, mas conta pontos no campeonato e é muito importante não apenas classificar bem mas tambem não se envolver em acidentes. O safety-car é uma constante nas provas em Monaco e neste fim de semana não foi diferente.

Na volta de apresentação Pastor Maldonado não conseguiu largar e voltou para o box, onde ficou sem ter participado da prova. Isso já fez Massa herdar uma posição antes da largada. Na primeira volta Rosberg manteve a ponta seguido de Hamilton, Vettel, Kimi, Ricciardo e Alonso. Ja na primeira volta Perez bateu na Mirabeau o que resultou na entrada do safety-car pela primeira vez. Assim Massa herdou mais uma posição e fechou a volta em decimo terceiro.

Com a corrida reiniciada Vettel foi o primeiro a ter problemas de potencia e abandonou a corrida prematuramente após uma parada no box. Ao todo 8 carros saíram da corrida.

Na volta 25 as coisas começaram a mudar de verdade com a entrada novamente do safety-car. Ao mesmo tempo que os da frente optaram por ir aos box trocarem pneus, Massa continuou com o mesmo jogo. Na relargada Kimi se toca com uma Marussia e volta ao box novamente. Massa aparece em quinto lugar na prova e à frente do seu companheiro Bottas.

Daí em diante a monotonia foi uma constante e só no final a corrida se tornou mais tensa, muito por conta do estado dos penus. Na volta 42 Rosberg era o líder, seguido de Hamilton e Ricciardo, formação que acabou sendo o pódio da prova. Na sequencia vinham Alonso e Massa. Somente na volta 46 Massa foi para o box e saiu de lá com pneus macios e em condição de terminar a prova sem nova troca.

No seu retorno dos pits Massa apareceu em 11o., tendo à sua frente Kimi em 10o. e Bottas em 9o. O que foi interpretado como azar de Massa na classificação virou sorte para ele e azar para Bottas que perdeu o motor na Lowes e saiu da corrida. Mais tarde Gutierrez roda e bate na Rascasse, ponto onde não há guincho, e foi o ultimo a abandonar a prova. Na frente as posições continuavam as mesmas com as duas Mercedes na frente abrindo sempre mais dos seus concorrentes, num desempenho sem comentários. Logo atrás vinham Ricciardo, Alonso e Hulkenberg.

A essa altura os pneus eram uma dúvida e restava esperar as ultimas voltas para ver o comportamento das Mercedes, assim como de Ricciardo que vinha perto de Hamilton. Na volta 73 uma ultrapassagem mostrou o que é provavel que se torne comum nas corridas que restam no campeonato - Kimi tomou uma volta de Rosberg, ocupando na hora a 8a. colocação. Definitivamente não foi o final de semana desejado por Kimi que acabou se enroscando na Lowes com Manussen e acabou indo para os boxes. Assim Massa passou a ocupar a 7a. colocação, a mesma na qual finalizou a prova.

Nas voltas finais houve uma intensa perseguição de Ricciardo a Hamilton ao mesmo tempo que Rosberg continuava na liderança sem ser ameaçado. Cruzou a chegada em primeiro, repetindo o resultado do ano passado. Mostrou uma performance sem ressalvas, pilotando a prova toda com o seu companheiro visivel no espelho. Passou a ser o líder do campeonato e inaugurou de fato uma disputa interna que promete ser muito acirrada.

A Mercedes mostra com esse resultado ser um carro capaz de se adaptar bem a condições variadas e dificilmente deve ter problemas nesse aspecto em qualquer das outras pistas do calendário. A Ferrari seria a minha aposta para vice-campeã do ano, já que nem sempre o azar de Vettel deixa a Red Bull contar com ele até o final da prova.

E por fim coloco uma questão. Faz um longo tempo que se fala que Massa não consegue lidar muito bem com os pneus. No meu entender foi ele quem fez isso melhor na corrida de hoje. Será que ele realmente não sabe lidar com pneus? Será que o desempenho de hoje não tem a mão do Rob Smedley?

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sir Jack Brabham, uma lenda inigualável - (1926 - 2014)



Jack Brabham (foto: Wikipedia)

O mundo da F1 perdeu hoje uma lenda inigualável. Faleceu hoje o australiano Jack Brabham aos 88 anos. Segundo a nota divulgada pela família, faleceu em casa de causas naturais.

Jack Brabham, que ingressou na F1 no ano em que nasci, foi uma referencia na categoria. Fora ter sido tri-campeão na categoria mais sofisticada do automobilismo mundial, faturou o seu terceiro título a bordo de um carro próprio. Isso não é coisa para poucos, é apenas para ele, já que ninguem mais repetiu dita façanha e nem repetirá pois a F1 atual é um outro mundo comparado com o dele.

Na sua época, quando pilotou pela Cooper, as coisas corriam pelas mãos das pessoas, dentro e fora dos carros. A ousadia e determinação, e tambem a genialidade, eram as ferramentas mais utilizadas no projeto de um carro de F1. Era um grande conhecedor de mecânica e ao pilotar o seu próprio carro combinou uma grande capacidade de pilotar rápido com um profundo saber da máquina que conduzia. Isso é uma formula de sucesso do tempo em que pilôtos eram caras que habitualmente estavam sujos pois se envolviam com tudo que dizia respeito aos ajustes e desenvolvimento dos carros.

O mundo de hoje não verá mais pilôtos que tenham tal nível de envolvimento com as suas máquinas e assim Jack Brabham vai permanecer na história desse esporte como alguem cuja trajetória jamais será repetida no mesmo formato. Tiveram a honra de serem pilôtos da Brabham, mas nas mãos de Bernie Ecclestone, Wilson Fittipaldi Jr. e Nelson Piquet. Por sinal dois brasileiros apaixonados pela mecânica e que tambem meteram as suas mãos na graxa.

domingo, 11 de maio de 2014

Espanha - Mercedes, soberba, sequer precisa se preocupar com pneus.



Numa pista onde o desgaste dos pneus pode por fim a uma corrida ganha, a Mercedes deu uma lavada nos concorrentes a ponto de colocar uma volta sobre o 7o. colocado - Kimi Raikkonen da Ferrari - na última volta. Nem mesmo o desgaste intenso de pneus fez a equipe ter dificuldades para vencer. Outra vez Hamilton vence com o seu companheiro de equipe em segundo totalmente visível no espelhinho. Com um carro desses mesmo que De Cesaris estivesse no lugar de Hamilton ainda assim venceriam o campeonato, situação com a qual já se conta ainda na quinta etapa da temporada. É uma performance espetacular que o alemão Schumacher não está podendo ver. Justamente ele que ingressou na equipe como parte time de desenvolvimento.

Na largada Hamilton e Rosberg mantiveram as suas posições e Bottas ganhou a posição de Ricciardo, fechando a volta inicial respectivamente em 1o., 2o., 3o. e 4o. Fiquei na hora com a sensação de que a Williams poderia ter um dia de felicidade que afinal não se confirmou. Embora a Williams desse ano seja bem melhor que a do ano anterior ainda não é veloz o suficiente para almejar um pódio.

Um pouco mais atrás vinham Kimi, Alonso e Massa (6o., 7o. e 8o.), o que prometia ser uma disputa muito interessante. O decorrer da corrida mostrou que as ultrapassagens nessa pista são mesmo dificeis e nessa briga restaram apenas Kimi e Alonso no final. Posição de largada sempre fez diferença em qualquer corrida e isso poderia ser a razão de um péssimo final de semana para Vettel, que fechou a primeira volta em 14o., mas alem de ter alcançado o seu companheiro de equipe, mesmo não tendo o ultrapassado marcou tambem a volta mais rápida da prova. Será que Vettel 'acordou' para o campeonato ou a sua 'sorte' está voltando para dentro do cockpit? Caso a se conferir nas próximas corridas.

Na decima volta Maldonado ganhou mais um pontinho na carteira de habilitação porque na primeira mostrou que petro-dollares podem colocar alguem na pista mas não vão pilotar, isso vai ficar por conta do piloto. Foi punido com 5s por ter sido agressivo demais na disputa com Ericson.

Vettel inaugurou as trocas de pneus na volta 12, tendo feito antes disso a volta mais rápida marcando 1:31.876 pouco antes. Na sequencia vai ao box o seu companheiro Daniel Ricciardo ao mesmo tempo em que a Mercedes já disparava lá na frente. Depois vem Massa e dessa vez a Williams trabalhou muito bem na troca, enquanto Bottas seguia bem mais à frente dele.

Na volta 20 Rosberg marca a volta mais rápida com 1:31.6 e Hamilton responde em seguida com oito décimos a menos. A performance de Hamilton era tal que na volta 22 ultrapassou o primeiro retardatário na corrida. Mantendo-se esse ritmo era de se esperar que atrás dele terminasse um comboio de retardatários, o que afinal acabou acontecendo.

Mais atrás, Kimi continuava na frente de Alonso e acabou colocando Grosjean entre eles. Não parecia que Alonso pudesse superar Kimi com facilidade pois o finlandes mantinha um ritmo bem forte mesmo depois de uma breve aposentadoria da categoria, situação na qual não se espera um retorno competitivo. Acho sinceramente que Alonso tem em Kimi o que pode ser uma pedra no sapato no quesito performance.

Na segunda troca de Alonso, deu para entender que a Williams ainda precisa remar um pouco mais. Alonso saiu do box na frente de Massa e mesmo com os pneus frios e com Massa encostado nele, abriu do brasileiro sem dificuldades nessa mesma volta.. Lá na frente a Mercerdes andava tanto que, na metade da corrida Rosberg estava 29s à frente de Ricciardo. Seria perfeitamente possivel fazer um pit e sair à frente de Ricciardo nessas condições. Button tomou uma volta de Hamilton quando era o 13o. colocado e ainda tinha muita prova pela frente. A lavada sobre os adversários estava visível.

A Ferrari mostrou nessa corrida que não apenas a equipe pode definir o resultado, como tambem os carros são rigorosamente iguais. Kimi veio para a troca de pneus e, imagine, foi mais lento que as trocas de Alonso e voltou atrás do espanhol. Mas depois as coisas mudaram um pouco e Kimi, outra vez na frente, vendeu bem caro a ultrapassagem na pista.

Na volta 48 Alonso aparecia em 4o. com Vettel em 5o. Considerando-se as posições de largada, Vettel mostrou uma performance superior, coisa que foi confirmada no final da corrida. A essa altura os carros estavam mais leves (lembre-se que não há mais reabastecimentos) e quem tinha pneus iria andar rápido. Nessas condições Rosberg marcou 1:29,236. Na Mercedes tinha sobra de pneus, carro e pilôto. Mas isso não quer mais dizer que isso venha a ser privilégio deles. As Red Bull e as Ferrari vinham baixando seus tempos tambem. E aí a corrida passoua ter duas instancias bem definidas sendo, lá na frente a Mercedes numa disputa particular e mais atrás outras disputas entre Red Bull e Ferrari, de tal forma que o final da corrida tinha que ser apreciado em dois momentos separados.

Alonso foi novamente para os pits na volta 54 e isso explica então porque teve que disputar posição com Kimi na pista. Na saída Vettel se manteve à frente em 6o., seguido do espanhol. Bottas estava em 4o., uma bela performance diga-se de passagem, e à sua frente Daniel Ricciardo em ritmo bem consistente embora muito distante das Mercedes. Nessa situação Vettel marcou a volta mais rápida do dia - 1:28.918. Vettel precisava andar muito forte enquanto as Mercedes precisavam administrar a vantagem. Isso deixa claro que as Red Bull são um tipo de líderes de um segundo pelotão que veremos durante essa temporada toda.

Vettel ainda ultrapassou Alonso, Kimi e Bottas e terminou assim na 4a. colocação, tendo saído quase no final do grid. Ainda restavam mais duas disputas que mereceram ser acompanhadas curva a curva. Lá na frente Rosberg vinha chegando em Hamilton e na volta 60 encostou no companheiro. Esatava claramente mais rápido mas a disputa estava aberta no ambito das ordens da equipe. Restava ultrapassar, o que vem a ser a parte mais dificil de todas. Enquanto eles duelavam lá na frente, Alonso finalmente conseguiu ultrapassar Kimi na volta 64, apenas duas antes do fim. Por isso penso que Alonso tem no seu companheiro um concorrente dificil. Nessa hora com certeza o atraso na troca de pneus de Kimi Raikkonen fez a diferença. Alonso tinha mais pneus que Kimi mas precisou pilotar para ganhar a posição.

E Hamilton faz de Kimi (7o. colocado) mais um retardatário na ultima volta da corrida, mesmo disputando posição com o seu companheiro de equipe que o seguia bem perto. Venceu Hamilton, seguido de Rosberg, Ricciardo, Vettel, Bottas, Alonso, Kimi, Grosjean, Perez e Hulkenberg. Na ordem são 2 Mercedes, 2 Red Bull, 1 Williams, 2 Ferrari, 1 Lotus e 2 Force-India. Estas são as equipes que vão patrocinar as disputas nessa temporada, sendo a Mercedes um caso destacado. Massa fez uma corrida para ser esquecida, terminando apenas em 13o. mas tem carro para se juntar a esse bolo.

A próxima etapa é em Monaco e as Mercedes devem se manter na frente. Será muito interessante ver o que as outras que citei agora poderão fazer. E com certeza elas disputarão duramente as suas posições. Temos o que ver pela frente, com certeza.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Senna. Vinte anos depois.......



Vinte anos depois que Senna faleceu ele ainda é um herói para o brasileiro e mesmo que tenhamos outro campeão nas pistas Senna continuará na distinção máxima. Essa admiração acima da média é hoje uma história pronta, fechada, que não mudará mais e que foi interrompida no auge da performance. Senna teve tal impacto na vida do brasileiro que, talvez seja o único brasileiro que despertou numa criança o desejo de ser como ele e não como Pelé.

Para um garoto que conta hoje com 20 anos e que ,portanto, veio ao mundo no mesmo ano em que Senna se foi, o pilôto é parte de um imaginário que pode ser compreendido pela existencia de uma imensa quantidade de matérias jornalísticas e filmes postados na internet. Para reforçar um pouco mais essa admiração que existe de forma muito visivel entre os mais jovens, há ainda os comentários do pai e as matérias de televisão com pessoas que conviveram com Ayrton Senna.

Mesmo após a sua morte e sete títulos de Schumacher na categoria, Senna permanece na condição de mito. De tal forma que até mesmo na Europa há pessoas que entendem que Senna era superior ao alemão Michael Schumacher. Nos ultimos dias Senna esteve tão evidente na mídia quanto as tensões na Ucrania. E a razão disso não é a mídia isoladamente que, de fato, se apropria da oportunidade que o tema oferece para mais publicações. A razão é, na prática, o próprio pilôto, o seu estilo profissional, as suas marcas e o seu estilo pessoal.

Em resumo, Senna é uma figura singular no meio, totalmente distinguível. A mídia, óbviamente, vai dar destaque aos que estão ou estiveram no tôpo. Alguem hoje, por exemplo, lembra de Scot Speed, um americano que chegou na F1 com muitas palavras mas não sabia escolher que pneus usar num GP?

Senna se destacou e permanece nessa condição em função dos seus próprios êxitos. De uma certa forma é possível dizer que Ayrton Senna ofuscou outros grandes nomes do nosso esporte. Para fazer uma comparação mais atual, Senna tem mais importancia no imaginário dos mais jovens do que o tenista Gustavo Kuerten, outro dos nossos nomes brilhantes do esporte, que um amigo meu disse ser o Senna da raquete no dia da histórica e surpreendente vitória em Roland Garros..

Para quem como eu está perto dos 60 anos, essa visão tem ingredientes a mais que reforçam a minha noção de que Senna é, e sempre será, visto como o mais destacado esportista brasileiro. Temos nomes no esporte que tiveram grande e merecido destaque nas suas épocas e foram citados com verdadeiras honras. Por exemplo, temos expoentes como Maria Ester Bueno, Adhemar Ferreira da Silva, Pelé, Mané Garrincha, Éder Jofre, Miguel de Oliveira, Oscar Schmidt, Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Gustavo Borges, e mais um lista significativa capaz de mostrar que o Brasil tem mesmo do que se orgulhar no esporte. Senna é visto no tôpo da lista.

Para quem, como eu, se lembra do hino dos canarinhos quando eu tinha tão somente 7 anos de idade em 1962 e não entendia bem porque o brasileiro era o melhor de um mundo esquisito em que comunistas comiam criancinhas, o entendimento da admiração da qual Senna desfruta hoje entre os brasileiros, tem causas adicionais.

Em 1966 Pelé travou praticamente sozinho uma duríssima batalha com nossos adversários, sendo parte de um time bem desorganizado que voltou para casa de cabeça baixa e vaiado, mesmo sendo já duas vezes campeão no futebol. O Brasil melhor do mundo se tornou um dos piores e a sensação de decepção foi expressa literalmente na forma de tristeza e mandou a nossa autoestima para um dos níveis mais baixos até então.

Em 1970 me lembro muito bem da inversão dessa sensação de uma forma sem precedentes na nossa história até hoje. Estávamos curados da nossa suposta inferioridade. Dois anos depois Emerson Fittipaldi fez o que certa vez Nelson Piquet classificou como colocar o ôvo em pé. Ganhou um título que ninguem cogitaria, em terras alheias, sendo parte de um time que não era nosso, brigando com gente que nunca acreditaria num brasileiro para essa distinção, num esporte no qual não tinhamos uma várzea reveladora de talentos.

Emerson se tornou o máximo naquele dia em Monza. E no retorno ao Brasil desfilou nas ruas em carro do corpo de bombeiros, assim como a seleção dois anos antes, e com muita gente acenando para o novo representante da nossa superioridade. Assim, deu um surpreendente pontapé inicial num jogo que passamos a assitir todos os domingos pela manhã.

Ao mesmo tempo que o nosso maior futebol do mundo ficava gripado, tendo chegado depois à pneumonia, o automobilismo se tornou o nosso mais potente analgésico. Até 1994 o brasileiro teve motivos para continuar engolindo com menos dificuldade uma seleção de 'fim de grid', ao mesmo tempo que fazia festa com frequencia para vitórias em corridas e campeonatos. O automobilismo nesse período teve a capacidade de fazer o brasileiro ir mais cêdo para a cama no sábado e deixar para mais tarde a pelada de domingo, muito comum antigamente nas manhãs.

Senna chegou no tôpo dessa trajetória alimentando a ansiedade do torcedor num cenário de disputas que lembrava muito bem o nervosismo que o brasileiro sentia numa partida da seleção nos anos 1960. Ele deu continuidade a esse desejo de vitórias e bandeira brasileira visível para o planeta. Tivemos Emerson e Nelson e na falta deles tínhamos Senna. E para potencializar mais a admiração, entram no computo números recordistas não imaginados na época.

A interrupção trágica de uma trajetória que ainda tinha outros capítulos mais, imediatamente deixou no torcedor fanático a sensação de apito final. A festa acabara e restava esperar que alguem o substituisse pois ele mesmo já tinha feito esse papel com brilhantismo, e assim sendo outro brasileiro viria na sequencia. Nos anos que se seguiram o futebol curou-se da gripe prolongada, viramos os melhores do mundo outra vez, e hoje nos próprios estádios de futebol Senna é lembrado e ovacionado.

Mas nunca foi substituido à altura. E, por enquanto, nada aponta para a possibilidade de que venha a ser. Hoje quando se completam 20 anos da sua morte a Copa do Mundo terá início justamente no estádio do seu time. Se estivesse vivo, com toda ceteza estaria presente no estádio torcendo para a nossa seleção da mesma forma como fizemos no passado, fosse numa partida de futebol ou numa corrida de F1.

Embora a tragédia tenha interrompido uma carreira no auge da performance, e marcado a sua imagem para sempre nas lembranças de quem o viu pilotar, Senna será sempre reverenciado como o nosso maior pilôto de automobilismo, ainda que algum dia tenhamos mais outro campeão de F1. Assim como o futebol se recuperou e ganhou novamente, no automobilismo nada impede que isso venha a acontecer e com certeza Senna será para um pilôto brasileiro a referencia de superioridade, de combatividade. Quando veremos isso novamente é dificil imaginar. Pode ser que nunca aconteça enquanto estivermos vivos. Pode ser que a nova geração que está dando as caras hoje, comece outra etapa em que vai valer mais a pena acordar cêdo num domingo e cancelar a pelada do fim de semana. Tudo é possível.