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domingo, 20 de abril de 2014

China- Hamilton vence em Xangai a bordo de um carro deste mesmo planeta



Quando Ayrton Senna, ainda na McLaren, referiu-se à Williams como o carro do outro planeta, não se esperava a possibilidade de dito bólido ser derrtotado pelos seus concorrentes aos quais dava poeria com facilidade. Mas a verdade é que a Williams da época foi projetada e fabricada aqui mesmo neste planetinha.

Hamilton marcou a pole mais de 1s à frente do seu companheiro de equipe. Largou mantendo a liderança e assim foi até o final. Fora isso considere-se que a classificação se deu em pista molhada e a corrida no sêco. Carro super eficiente pilotado com maestria por um campeão, os dois capazes de dar otimo rendimento em condições diversas. Os de trás não conseguiram alcançar tal performance, mas isso não é para sempre. Pode ser no máximo por esse ano.

Pilotando um carro terreno, este piloto que nada tem de ET, abriu tal vantagem aos seus concorrentes que na sua troca de pneus ainda saiu do box na liderança. Portanto a corrida aconteceu mesmo do segundo colocado para trás, enquanto Hamilton guiava sózinho na liderança mostrando uma invejavel capacidade de guiar rápido e preciso.

Para quem sucumbiu ao sono da madrugada, diria que vi (e ouvi) a parte da corrida que me deixou a clara noção de que seria uma prova sonolenta. Começou muito bem com um ótima largada de Felipe Massa e de Alonso, que antes da primeira curva se tocaram lado a lado num incidente típico de disputas e não intencional. Mesmo tendo Massa conseguido ganhar uma posição, Alonso levou a melhor pulando de 5o. para 3o.

Mais tarde Massa teria a sua corrida jogada às traças durante um dos piores pit stop da historia da F1, quando a Williams trocou os pneus do brasileiro num autentico procedimento de borracharia de bairro. Massa foi parar em último e mesmo com um carro confiável pôde remar no máximo até a 15a. colocação. Particularmente, eu julgava uma boa prova de Massa a manutenção da sua mesma posição de largada numa pista úmida, situação na qual a Williams não mostrou um bom desempenho. Com pista sêca ganhar posições seria um cenário muito provável e o pódio um final a se considerar. Que tenha mais sorte na próxima.

Alonso não mostrou que a ausencia de Domenicali seja motivo para a Ferrari ir ao pódio. Mostrou sim que o carro e a equipe não são páreo para a Mercedes mas que isso não significa festejar tristes nonos lugares, tal como se deu na prova do Bahrein. A Ferrari 'está a caminho' e deve ter a sua disputa durante o ano com a Red Bull, mais especificamente com Daniel Ricciardo que terminou nada menos do que 24s à frente do campeão Vettel, seu companheiro. A performance da Ferrari hoje mostra que terá chances concretas em pistas como Spa ou Monza.

Mesmo tendo ido ao pódio, Alonso, que ocupou a segunda colocação na corrida, viu passar sem muitas dificuldades a Mercedes de Nico Rosberg, o segundo colocado na prova. Nico é o piloto que tem nas mãos a chance de por fim às esperanças das outras equipes sempre que repetir a dobradinha de hoje. Acho dificil que venha a superar Hamilton mas acho possivel que consiga andar sempre perto do seu companheiro de equipe. Coisa que Vettel dá a impressão de que seja um tipo de sonho, ou até pesadelo, para ele. Vettel mesmo admitiu nessa semana que ele precisa dar resposta à performance do seu companheiro de equipe, claramente superior à dele.

Bottas acabou confirmando o que eu esperava, embora em condições de pista diferentes da classificação - terminou na mesma colocação na qual largou. A Williams não é um carro de ponta mas é claramente melhor que a versão anterior e ainda há todo um campeonato para evoluir e ser parte do campeonato que corre atrás das Mercedes. A equipe derrapou hoje mas isso com toda certeza já á passado e caso já discutido e acertado, visando as próximas etapas.

Por fim, que registre-se que desde que acompanho a F1 (desde os idos da minha adolescencia), o GP de hoje deixou uma ótima lembrança para mim. Nunca contei com a possibilidade de ser citado num 'abraço radiofonico' durante uma transmissão de F1, uma saudação muito amistosa de um dos meus melhores amigos - Jan Balder.

Grande abraço pra ti, Omelete!

Luciano do Valle - uma voz nunca se esquece


Luciano do Valle
(imagem: reprodução wikipedia)

No ano passado, após mais de quatro décadas sem ter notícias, falei com um antigo vizinho do meu período da infancia, por sinal uma época inesquecivel da minha vida. Tendo retomado o contato com a família pela internet, um dia liguei para ele e ouvi a mesma voz que ouvi na minha infancia. Parecia que estava frente a frente com ele.

Assim é a voz, é a mais genuina identificação do ser humano. Voce pode esquecer a pessoa, a fisionomia, muitas coisas, mas a voz fica gravada para sempre.

Ontem o jornalismo esportivo brasileiro perdeu uma voz que nunca será esquecida, muito especialmente pelos torcedores de futebol. Luciano do Valle faleceu vítima de infarto, a caminho de Uberlandia. Sentiu-se mal durante o vôo, foi atendido na chegada mas não resistiu.

Luciano foi o primeiro brasileiro a narrar na tv um GP de F1, tendo narrado a histórica vitória de Emerson Fittipaldi em Monza. Foi ele quem narrou uma vitória da qual guardo lembrança como a mais emocionante de todas no automobilismo - a primeira vitória de Emerson Fittipaldi na Indy. Tambem narrou as subsequentes do campeão no mesmo ano, o que lhe rendeu tambem o título da categoria. Sem contar as inúmeras outras narrações em outros esportes como o futebol, basquete ou boxe.

Luciano do Valle tinha uma voz absolutamente distinta de todos os seus colegas e sabia emprega-la de maneira muito marcante. Sabia levantar a temperatura no momento da vitória iminente e narrar com bastante equilibrio uma derota consumada. Foi um grande profissional da voz e a sua voz jamais será esquecida pois uma voz nunca se esquece.

domingo, 6 de abril de 2014

Bahrein - um ruído claramente distinguível


Para quem reclamou um bocado do ruído dos atuais motores da F1, na prova de hoje vencida brilhantemente por Hamilton, sob o brilhante ataque do seu companheiro Nico nas voltas finais, é curioso notar que um dos destaques da corrida foi o ruído do safety-car.
Logo em seguida a mais uma demonstração de Maldonado de que não está à altura dos outros pilotos da categoria, o safety-car entrou na pista e, alem de ter atrapalhado a vida da Williams e tornado mais difícil a vitória de Hamilton, deu seu showzinho particular ao deixar evidente que um carro de turismo a pleno na pista tem o seu ruído claramente distinguível, à frente de duas dezenas de carros de F1. Até onde sei esta terá sido a única ocasião em que isso ocorreu de tal forma a ser bem notado na própria transmissão.
Só para não esquecer, Maldonado foi punido durante a prova e consta agora na 14a. colocação e tem punição determinada para o próximo GP. Deixo a dúvida no ar: ele deveria ter sido desclassificado ou isso é tão sómente uma barbeiragem de quem deve ser vaiado? Afinal ele mandou para fora da pista em situação de capotagem a Sauber de Gutierrez após te-la atingido bem no meio.
A Mercedes parece que vai correr um campeonato particular. Não vejo o que possa tirar a equipe da disputa pela vitória. Estão tão à frente dos outros que a disputa interna entre os pilôtos vai acabar beneficiando a própria equipe. Se ficar na frente o que estiver andando mais, mais ainda a equipe vai se distanciar dos outros. Caso Maldonado entre na cena, como hoje, essa vantagem desaparece momentaneamente e reaparece rápidamente. São os campeões do ano, não há mais dúvidas.
A corrida foi cheia de belas disputas mas uma quase-barbeiragem virou ponto alto fora das pistas. Em determinado momento Reginaldo Leme referiu-se ao pilôto da Williams como 'Bos...' e imediatamente, percebendo a derrapada corrigiu: 'Bottas'. Ao que se seguiu um breve silencio na transmissão quando eu ri um bocado aqui ao mesmo tempo que eles mesmos devem ter soltado gargalhadas na cabine de transmissão pois a ocorrencia foi realmente hilária.
Levando-se em consideração a posição em que Massa largou, mais a sua brilhante largada saltando para 3o. na primeira volta, mais o infortúnio que representou o safety-car nas ultimas voltas, diria que fez uma bôa prova terminando na frente do seu companheiro que largou 4 posições à frente. Mas fiquei com uma dúvida que apenas alguem do meio poderia resolver. A Force India tem mais chão que a Williams ou a Williams gasta mais pneus? Dificil dar uma resposta convincente para essa questão. Mas se for verdade a segunda possibilidade a Williams pode mostrar no restante do ano que ainda tem bastante a melhorar. Ainda assim não diria que é caso de desilusão. A equipe esteve na terceira posição hoje, à frente de outras que frequentavam no ano passado a dianteira da fila com frequencia.
Caso oposto da Ferrari onde Alonso parece ter comemorado o nono lugar de hoje. Caso para comemorar mesmo porque seria perfeitamente viável dizer que no quesito performance a Ferrari trocou de lugar com a Williams, o que vem a ser um tipo de ofensa grave para os torcedores italianos que acredito que venham a dizer coisas pouco amistosas a respeito da equipe nos proximos dias.
A McLaren por sua vez pode comemorar apenas estar inscrita. Já declararam um dia desses que foram prejudicados pelo atraso no desenvolvimento do carro. Será para eles um ano sabático.
Mas quem deve estar adorando esse novo panorama é Mark Webber. Entre as bôas disputas da corrida de hoje, a de Ricciardo e Vettel deve ter feito Webber respirar com ar de satisfação lá com a sua vizinhança de cangurús. Quem diria que o tetra-campeão passaria a andar lá atrás e disputando posição com um novato? E pior, perdendo. Ah, é bom lembrar que Ricciardo disse ao Barrichello que a pronuncia correta do nome dele é mesmo Ricardo. Com pronuncia correta ou não, a verdade é que o garoto acelera pra valer.
A próxima prova é na China e o clima lá não é tão amigável assim. Isso pode acabar sendo fator de influencia bem significativo no resultado. A McLaren ganha de novo, sem dúvida. Quem poderia chegar em seguida?

sábado, 5 de abril de 2014

Assim em Interlagos como no céu




Há vida após o automobilismo? Sem dúvida pois o automobilismo se foi e nós continuamos aqui reclamando justamente disso. Ao mesmo tempo lá no céu, pilôtos que já andaram no antigo circuito de Interlagos, hoje devem estar olhando cá para baixo com a mão no queixo com expressão de incredulidade. Não podemos pensar que o automobilismo que cultuamos quase como uma religião no passado sobreviva e se fortaleça no panorama atual do país. Seria demais querer fazer equivaler à situação do nosso automobilismo o significado da famosa frase religiosa 'Assim na Terra como no céu', carregada de esperanças.

O que resta de automobilismo no país se resume a poucas categorias, nenhuma delas formadora. A maior categoria do automobilismo atual é a ante-sala da aposentadoria, muito embora a simbologia dela resista ao tempo após décadas, a Stock Car. Fora isso nada há que se assemelhe ao passado. Por exemplo, não temos mais a prova que eu considero a mais importante da nossa história, a Mil Milhas Brasileiras, que no meu entender tem importancia histórica superior à F1.

E o que fazer com um autódromo num país onde não há automobilismo? No caso de Interlagos que é de propriedade do município pode-se pensar em locar para outros eventos. Vai longe (e muito) o tempo em que passei nas imediações de Interlagos, ou que tenha ido lá diretamente, e tenha visto um treino de carros ou motos num sábado. Era coisa comum. Hoje mudou tanta coisa que não é de se estranhar um evento como um show do Lollapalooza lá nas dependencias da nossa mais famosa pista.

O autódromo é um ônus para a prefeitura e é perfeitamente compreensível, e necessário, que ela tente repor um tanto dos seus gastos abrigando eventos no autodromo de outra natureza que não as competições automobilisticas. Num país onde sepultamos um autódromo como Jacarépaguá, é um milagre termos ainda em pé e em ótimas condições a nossa primeira pista fechada.

Mas ao mesmo tempo que vemos muitos eventos e quase nenhum automobilismo, quando caras da minha idade não podem mais ver uma coisa como Mil Milhas porque simplesmente não existe mais, voce fica tentando entender o que terá gerado uma situação dessas. E é perfeitamente possível afirmar que culpar federações apenas, não é uma explicação convincente. Há bem mais a ser considerado.

Independentemente do que seja me dá uma sensação de fim de feira passar perto do autódromo e ver uma multidão se encaminhando para um show e ver o autodromo vazio em dias de corridas. Fica a esquisita impressão de que as corridas são eventualmente permitidas num lugar destinado precisamente à este fim. E quando vejo público num evento e nenhum no outro no mesmo lugar, passo a entender que o próprio público não tem mais interesse pelo automobilismo. Após tantos anos de decadencia acho bem difícil esse interesse ser resgatado.

Não tenho nada contra o uso do autódromo para eventos que não sejam do tipo a que ele é destinado. Mas acho que passou demais da hora de surgir alguma iniciativa que coloque o automobilismo de volta ao asfalto, o que poderia no futuro por de volta o público nas arquibancadas. Acho que o tempo passou, que esse bonde já foi perdido e a linha interrompida.

Hoje foi dia de realizar um dos meus prazeres favoritos, uma visita ao Zé Minelli na sua fábrica. Como sempre, antes de vir embora paramos numa padaria próxima onde tomamos um café ao mesmo tempo que falamos do assunto 'do dia' - carros de corrida. Na fila do caixa me deparei com o painel da foto abaixo onde estão registrados os nossos ídolos do passado que fizeram as suas vidas aqui mesmo nessa pista. Diante das condições diria que é uma curiosa imagem.

E agora ao conectar na rede vejo que está se alastrando uma briga na categoria na qual fui chamado a fazer um desenho digital do chassi, na época da sua criação. A F Vee, a terceira edição da categoria de monopostos que já foi a mais barata do nosso automobilismo, está vivendo uma dissidencia que parece dar argumentos para interpelações no campo jurídico. Divide-se assim uma coisa que em duas partes torna-se fraca e tende a desaparecer a longo prazo. Uma quarta edição é impensável. Essa de hoje é a derradeira da história e caso não resista à acidez das disputas pessoais passará tambem para o plano das lembranças. E caso tal se suceda vamos colocar no seu lugar o que?