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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Senna - muitas leituras possíveis

Nessa semana faz quinze anos que Ayrton Senna se acidentou fatalmente em Ímola. O mundo se chocou com a situação. Qualquer morte é chocante mas no caso dêle o choque foi maior principalmente por duas razões. Primeiro o austríaco Ratzenberger acidentou-se e faleceu um dia antes. Êste não tinha tanta expressão quanto Senna e embora tivesse sido uma situação também chocante, muito provávelmente o público austríaco foi o que mais sentiu a perda enquanto os outros voltaram as suas atenções quase imediatamente para o GP que se tornaria mais trágico ainda.

É uma coisa própria da F1. Qualquer morte é chocante mesmo aquelas que acontecem da forma mais natural, mais suave. Mas o automobilismo é uma modalidade esportiva em que o risco está presente curva a curva. Assim que acontece algum acidente na pista a reação imediata de tôdos é de uma surprêsa intensa seguida de grande curiosidade. Para os pilôtos isso tudo se processa de uma forma um tanto diferente do público porque estão com a adrenalina constantemente alta numa prova. E além disso convivem constantemente com o risco de colisões embora não pensem precisamente nisso quando estão pilotando pois essa é uma atividade que exige uma concentração muito grande. Não há tempo para se pensar nas consequências de uma colisão. Há tempo apenas para evitá-la ou tentar minimizar os seus efeitos caso vá inevitávelmente ocorrer.

Os pilôtos não podem sentir mêdo de retornar à pista após um evento dêsses. O maior exemplo disso foi Lauda que retornou às pistas pouco tempo depois de ficar cara a cara com a morte. Pilôtos são pessoas que têm o instinto de desafiar as situações. Após a surprêsa de um acidente essa conduta retorna rápidamente e o acontecido passa para o plano das lembranças.

Nessa situação se encontrou Berger no final de semana da morte do compatriota e do amigo Senna, quando retornou à pista afim de espantar a sensação que os trágicos acidentes lhe causaram. Schumacher que viu Senna sair para o fim à sua frente, têve frieza e profissionalismo suficientes para vencer a corrida, embora tivesse chorado depois na coletiva.

Esse é o mundo da F1. Tôdos arriscam o seu pescoços, uns acabam perdendo o seu, outros não se incomodam com êsses acontecimentos, outros ficam profundamente chocados e há também aquêles que de imediato pensam apenas nas diversas formas de prejuízo que uma situação dessas pode gerar. Na F1 o que mais importa são as glórias das vitórias e a própria categoria em si.

Êsse clima frio onde Senna ingressou foi definido por êle lá no comêço da carreira como um lugar onde é muito difícil se fazer amigos. As pessôas estão lá para competirem e derrotarem uns aos outros inclusive os que são amigos. Lá se busca o máximo, o extremo, a mais alta glória.

A imagem de Senna em atividade é a que faz par com essa busca da F1. Êle sempre trabalhou a sua imagem até o último dia. Um bom exemplo disso era quando êle parava alguns segundos antes de responder a uma pergunta. E fora isso as suas vitórias e as declarações não muitos comuns no meio, especialmente aquelas ligadas à religião, fizeram com que o público o enxergasse de forma bem distinta em relação aos outros.

O instinto matador deixou perante o público a leitura de um ser com capacidades muito acima da média. E isso deu origem a uma idolatria da parte de quem esperava vê-lo apenas no degrau mais alto do pódium. Há basicamente 5 leituras diferentes por parte do público. Os que o idolatram, os que apreciam a ironia e astúcia de Piquet, os que pensam que Prost era professor porque era melhor e os que pensam que Schumacher foi o melhor de tôdos incluindo Fangio e Senna. Ao mesmo tempo que era idolatrado por uns também era criticado por outros embora êsses sempre reconhecêssem na maioria das vêzes que ele foi sim um pilôto fantástico.

A sua morte deu origem uma uma série de declarações extremadas como ´Senna para sempre´, ´o maior de tôdos´, ´o único´, ´ninguém jamais...´, e muitas outras.

E tanto esse grupo de pessôas quanto os seus críticos se esquecem de que êle era um ser humano como qualquer outro, embora com características muito marcantes e acima da média geral. Se esquecem que êle também precisou aprender muita coisa no automoblismo dentro e fora do carro, pois não nasceu pronto como alguns chegam a pensar. Que êle não fazia o jeito playboy porque não era o seu jeito de viver apenas, ao contrário de outros pilôtos do passado. Que por mais habilidoso que fôsse estava sujeito a êrros como qualquer um está. Ninguém no mundo está imune aos êrros. Ninguém é absoluto e nem insubstituível. Há quem pense isso dêle.

E naquela corrida tão logo o fato se consumou deu-se início a uma busca pelo culpado. Alguém tinha que carregar êsse pêso. A equipe Williams foi quem recebeu o fardo. Falou-se sem parar das modificações que foram feitas no seu carro naquêle fim de semana. Isto remetia à equipe a dose de culpa máxima pelo resultado. Mas é estranho que não houve investigação da morte do austríaco.

Finalmente as pessôas se esquecem que de uma certa forma êle leva uma parte da responsabilidade pela própria morte. A única posição que lhe cabia era a de vencedor. E estar constantemente no máximo é uma coisa difícil em qualquer atividade e arriscadíssima no caso do automobilismo. É muito possível que se êle tivesse sido mais conformista com as deficiências do seu carro e por conta disso tivesse feito uma corrida mais conservadora, tivesse também se acidentado. Mas aí a necessidade de superar tôdos os limites não previu nenhum espaço para eventualidades e ao contrário criou o ambiente propício para uma ocorrência que não tivesse recuperação.

Pilôtos sabem que se expõem deliberadamente ao risco de perder a vida em troca da glória. Isso é igual a dar margem ao inesperado. E se o fazem de maneira muito intensa o inesperado pode também ser intenso. É conhecida a conversa dêle com Sid Watkins em que êste lhe sugeriu não correr se não se sentia em condições psicológicas. E aí entram os efeitos dos ambientes extremistas. Êle tinha que correr. Não seria aceito que êle tivesse se ausentado de uma corrida com êsse argumento. E os que não aceitam isso lhe diriam que o alemão correu e ganhou. Sim, e Senna correu e perdeu. A vida.

Um comentário:

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