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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A F1 de hoje e Nelsinho Piquet. Qual a sua opinião?

Saiu hoje a decisão sobre Nelson Angelo Piquet na Renault. Está desempregado após uma temporada e meia de maus resultados. Mas afinal a quem são devidos esses maus resultados? Aos dois, piloto e equipe.

Tão logo Nelsinho ingressou na equipe surgiu uma expectativa em relação à sua performance, uma vez que ele é filho de um tri-campeão mundial que tem autoridade e conhecimento suficientes para guiar a carreira de um piloto. Nesse aspecto Nelson pai fez para o seu filho tudo que pôde. É dificil imaginar que uma dupla dessas se saia mal. Além disso o tri-campeão não se esforçaria tanto para colocar o filho na F1 caso não enxergasse uma real possibilidade de desempenho. Nelson pai sabe sim diferenciar um bom piloto de outro não tão bom.

Mas porque os dois tiveram apresentações tão distintas? Não é possivel comparar pilotos de épocas diferentes. Já se falou muito disso e os próprios pilotos atestam a inconsistencia dessas comparações. Aqui há uma situação contundente nesse aspecto pois estamos falando de pai e filho.

O que há de muito diferente são as condições de um e outro. A F1 da época do pai era uma e a de hoje outra. As diferenças entre os carros e as equipes na época de Nelson pai eram bem maiores que as atuais. Um evento bem conhecido que atesta isso foi a Brabham BMW que Piquet pilotou que era um carro mais pesado que todos os outros. Nesse carro Piquet chegou a correr sem instrumentos e também sem a primeira e segunda marchas. Em outra ocasião propoz ao engenheiro disparar os extintores o que lhe garantiria alguns quilos a menos.

Os regulamentos da época eram bem mais flexiveis que os de hoje, assim como as diferenças entre os carros da época eram bem maiores. Nos dias de hoje os dez primeiros colocados andam na faixa de um segundo e na época de Nelson pai sempre era possível ver o ponteiro disparar com tempos muito superiores aos dos seus concorrentes. Houve casos de carros que terminaram a prova mais de duas voltas atrás. É facil observar que na F1 atual os carros estão muito mais próximos uns dos outros. Tão mais próximos que a posição de largada atualmente tem um influencia muito maior no resultado final. Largar uma posição atrás pode significar permanecer assim até o final. Caso bem oposto ao dos anos 70 e 80.

E o que isso tem a ver com a performance de Nelsinho? Hoje não é admissível que haja diferenças muito grandes entre dois carros da mesma equipe. No caso da BrawnGP onde Rubens anda sempre alguns décimos ou centésimos atrás de Button, a diferença está visivelmente nos pilotos. Mas quando essa diferença salta para algo entre 5 e 10 posições no grid, então há tambem uma evidente diferença de equipamento.

Quando um piloto está fazendo teste para ingressar numa equipe de F1, esta vai estabelecer um rendimento mínimo. Como sempre testam mais de um piloto, o resultado de um será comparado ao do outro. E finalmente será comparado tambem com os titulares. É óbvio que ao contratar um piloto na condição de titular a equipe está assumindo que aprovou a performance deste e tambem que espera por um periodo de adaptação. Afinal teste é uma coisa e competição outra. Ninguem se engana nessas horas, principalmente com o comprometimento que a situação envolve.

A permanencia de Nelsinho nesse campeonato ficou atrelada a uma clausula de performance não atingida. A relação entre piloto e chefe se deteriorou de tal forma que ficou pública a opinião de um sobre o outro. A Renault de hoje claramente não é mais a mesma do passado. Flávio Briattore é boss e não engenheiro. E Nelsinho deixou isso claro da forma mais áspera possível.

Na Hungria a diferença entre os três (pilotos e equipe) chegou ao máximo. Alonso fez a pole e começou a corrida com uma bela performance que foi destruida pela péssima performance da equipe. Ao mesmo tempo Flávio mostrou com clareza o seu total desinteresse pelo resultado daquele a quem não poupa nenhuma crítica ao ser visto de saída com pastinha na mão antes do final da prova.

E onde entra Alonso nessa salada? Com a grana. O patrocinio que ele tem é forte. Na McLaren ele reclamava da equipe sugerindo tratamento desigual. Por isso rompeu o contrato e voltou para a Renault. Então lá ele teria tratamento igual? Claro que não pois ele pretendia um tratamento desigual a seu favor. É preciso justificar montanhas de dinheiro de patrocínio. A mim não resta dúvida de que os dois andaram sempre com carros diferentes.

Agora a equipe vai contratar Grosjeam como titular a partir da próxima prova. Este tambem é novato em F1. Tambem terá que se adaptar. Mas o que se pode esperar dele e da equipe? Claro que ele vai andar com alguma prudencia. Não é sensato esperar por uma performance espetacular. Mas se ele andar sempre perto de Alonso então a equipe poderá dizer aos quatro cantos que agora tem dois pilotos bons andando com carros iguais. Portanto é sim de interesse da equipe que o novato tenha um bom carro. Mas e se esse novato for tão bom como Hamilton foi no seu primeiro ano?

Nessa mistura de indefinições está parecendo que o campeonato da Renault pode ser mais curioso do que o próprio campeonato de F1 em si. Há algumas provas para tirar as dúvidas. Vamos aguardar.

3 comentários:

Anônimo disse...


Finalmente, uma opinão lúcida sobre o assunto. O que tenho lido de bobagens sobre isso é fenomenal. Acompanhei a carreira do Piquet-pimpolho desde a época do Kart. Sempre foi bom piloto, não o melhor, mas bom. O pai sempre lhe deu os melhores equipamentos e o fez treinar, terinar e treinar. Mas não adianta fazer tudo isso e o cara ser bração. Alguma perícia tem que ter. E o pimpolho foi campeão brasileiro de Kart várias vezes. Depois a rotina foi a mesma ( melhores equipamentos e treino, treino e treino ) na F3 sulamericana, F3 inglesa e GP2, e sempre em equipe própria. Talvez pilotando em equipe própria na F1 ele possa demonstrar seu talento.
Zé Ayres

Unknown disse...

Caro Zé,

O garoto é sem dúvida bom. Como notou o Zé Ayres, seu histórico diz isso. Mas, independentemente disso, com favorecimento ou não para o Alonso, a F1 é antes de tudo um (milionário) negócio. E nos negócios o que vale não é a competência do sujeito ou mesmo seu esforço. O que vale são os resultados apresentados. Os famosos "deliverables". E tem cara com muito menos equipamento que ele, com resultados melhores.

E tem também aquela coisa do piloto "não se adaptar" à F1. Alguém classificaria o Michael Andretti, várias vezes campeão na Indy, como um "bração"? Eu não. O Nelsinho já teve a sua chance na categoria. Creio que insistir, só o queimaria ainda mais. É mesmo hora de mudar. Às vezes uma mudança de emprego muda também a nossa sorte. Torço muito para que sim.

Um grande abraço do Paulo Costa.

Unknown disse...

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