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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Carros-asa na F-1 - como era a sua pilotagem?



Em 1990 foi lançado no Brasil o livro “A arte de pilotar” do jornalista Gordon Kirby, traduzido para o português por Jorge Meditsch. Trata-se de um depoimento do bi-campeão de F-1, Emerson Fittipaldi, onde os temas principais são uma explanação sobre diversos aspectos das técnicas de pilotagem, um histórico da sua carreira de piloto, e uma exposição da sua vida nos Estados Unidos como piloto da Cart. Uma leitura interessante, vale a pena.

Logo no começo do livro, Emerson fala das suas impressões sobre a pilotagem dos carros-asa, que foram banidos da F-1 no início dos anos 1980. Segue abaixo uma curta transcrição , que nos dá uma idéia do que significava pilotar um carro desses, dito por um piloto que não deixa dúvidas na sua capacidade.

A grande mudança na maneira de dirigir veio em 77, 78 e 79, quando Collin Chapman iniciou a revolução do “efeito-solo” com as Lotus 78 e 79. Eu tenho que admitir que o período que se seguiu tornou necessários pilotos mais corajosos, até que o efeito-solo sem restrições fosse proibido na F-1 em 1982. Você entrava nas curvas muito mais rápido que antes, mas ninguem esperava que você colocasse de lado um carro-asa. Foram os tempos da laterais deslizantes, as “minissaias”, que criavam uma área de contato entre o fundo do carro e a pista. As saias se movimentavam para cima e para baixo, por dentro das laterais da carroceria. Um sistema de molas e roletas mantinha as saias pressionadas contra a superfície da pista o tempo todo e não havia vazamentos no vácuo que se criava embaixo do carro. Então, era necessário andar como se fosse sobre trilhos, porque os aerofólios, as asas dianteiras e a aerodinâmica que havia por baixo do carro deixariam de operar e se perderia quase toda a pressão se o carro estivesse de lado.

O mesmo ocorre com os F-1 e os Indycars de hoje, mas naquela época era muito mais crítico manter o carro em linha reta. A técnica era entrar na curva tão rápido quanto você podia, tentando manter o carro equilibrado durante todo o percurso. Você tinha que dar gás logo, mas não deixar o carro deslizar de jeito nenhum. Devido a toda pressão e à sucção, havia muita carga aerodinâmica no eixo dianteiro e a direção era muito pesada. Os carros geravam tanta força para baixo e tinham uma baixa pressão tão fenomenal embaixo deles, que não havia maneira nenhuma de você sentir ou ser avisado quando o carro começava a derrapar. Quando você percebia, ele já tinha ido embora!

Para mim não havia prazer em pilotar desse jeito. Todos os pilotos, penso eu, estavam perdendo seu estilo. O carro é que ditava a maneira de guiar. O carro é que estava no comando, no lugar do piloto. O piloto tinha de se adaptar ao que o carro queria fazer, nunca o contrário. Se o carro saísse de controle, havia pouca ou nenhuma chance de corrigir. E havia muita diferença de desempenho entre os carros. Um bom piloto não podia fazer nada para um carro ruim andar melhor.


Os carros-asa foram uma criação da Lotus que estreou em 1977 o Lotus 78. Niki Lauda ganhou esse campeonato mas o do ano seguinte foi de Mario Andretti com esse carro. Curiosamente um dos projetistas, Ralph Bellamy, foi contratado mais tarde pela Copersucar e desenhou o F6 que foi um tal desastre de performance que acabou sendo abandonado mesmo depois das tentativas de modificação do chassi que resultaram no F6A.


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