- V8 é V8 né.....
Saíam as Maserati para a classificação no Autódromo José Carlos Pace, e na porta do box um amigo do pilôto que emprestou o seu nome a este que já foi o nosso templo do automobilismo, falava comigo sobre a sua admiração pelos motores de 8 cilindros que ele pilotou muitas vezes no seu passado de pilôto de competição.
Eu conversava com Luiz Pereira Bueno, a quem disse certa vez que o admirava muito, coisa que aparentemente ele guardou de forma natural. Toda vez que o encontrava no autódromo ele sorria para mim, me cumprimentava, como se fôssemos amigos frequentes, coisa que na verdade nunca fomos. À ele eu dizia “Luiz Peroba Pereira....”, ao que ele invariávelmente respondia “Oiii, como vai....”.
O valor que isso tem para mim, longe do que qualquer pessôa possa imaginar, não é o meu orgulho pessoal de ter contato com um dos nossos maiores botas de tôdos os tempos, mas sim a admiração que eu tinha pela impressionante simplicidade de uma pessôa que foi literalmente referencia na pilotagem de competição no Brasil. Alguem que poderia ser muito mais reservado do que o normal, mas muito ao contrário disso era tão acessível quanto qualquer mortal comum. E ainda por cima uma pessôa que se dirigia a você como um gentleman.
O Luiz que eu conheci era uma pessoa gentil, educado, fala mansa, sempre pronto a contar uma estória, pronto para uma boa prosa, preferencialmente sobre carros de corrida, a sua grande paixão. Luiz foi cunhado de Cláudio Daniel Rodrigues, a pessoa que introduziu o kart no Brasil. É alguem que tinha muito a contar e ensinar. Era muito conhecido pelo seu jeito suave de pilotar e pelo seu conhecimento de mecânica de automóveis, coisa que lhe rendeu um diferencial nas pistas.
Não foi à toa que teve duas oportunidade de pilotar F1 e estabeleceu um record no anel externo de Interlagos pilotando um March. Infelizmente não conseguiu se firmar na categoria, coisa bem dificil de se conseguir mesmo naquela época, não bastando para isso apenas pilotagem. Certamente teria sido um pilôto muito rápido.
No final de 2009 eu soube por amigos que Luiz manifestara cancer de pulmão. A sua vida depois do automobilismo não foi nada fácil, mas ao mesmo tempo êle pôde contar com amigos da sua época de pilôto, que nunca o deixaram desamparado. Fizeram por Luizinho o que se podia fazer e a incrível simpatia dêle deixava claro que era merecedor das amizades que tinha.
A última imagem que guardo de Luizinho Pereira Bueno é de 2009, sentado num dos boxes do autódromo de Interlagos, tendo ao seu lado meu amigo Joca e mais outras pessoas. Eu estava de saída e passei ali para me despedir. Nem imaginava que seria o último cumprimento ao cara mais gentil que eu conheci nesse meio.
Pelo que captei no contato com Luizinho, diria que o nosso automobilismo, que já está internado há muito tempo, definitivamente virou história de livros a partir do dia de hoje. Quem pôde ter contato, nem que fôsse mínimo, com pilôtos dessa época sabe de que estou falando. O nosso automobilismo virou uma das suas mais significativas páginas. Luiz faleceu na manhã de hoje à 7:00 na sua casa em Atibaia. Perdi um amigo de box simpático e sorridente e o Brasil perdeu um dos nossos expoentes na pilotagem de competição.
Costumam dar nome de pessôas ilustres à ruas e avenidas. Penso que Luiz merece coisa bem mais veloz que isso. Não acho, mas sim tenho toda convicção de que o automobilismo deve dar a um dos nossos autódromos, mesmo que isso se dê no futuro, o nome de Luiz Pereira Bueno.
a foto do post do tambem pilôto Sidney Cardoso
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