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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Relembrando Emerson - Indianapolis 1989

A forma que eu escolhi para assistir a
fantástica vitória de Emerson na Indy 500 1989

Eu sempre gostei muito de automobilismo e ele passa na minha frente com alguma frequencia. Hoje muito mais porque tenho comparecido ao autódromo mais vêzes. Mas não é de hoje que acontecem encontros meus com alguém que tem alguma ligação com o meio.

Num lugar que ainda frequento e gosto muito, conheci na década de 1980 uma pessôa que vibrou muito, junto comigo, na primeira vitória de Emerson na 500 Milhas de Indianapolis. Foi uma sensação inusitada para mim. Eu alimentava a expectativa, natural naquela época, de ver Emerson ganhando um campeonato e também uma 500 Milhas. Ganhar essa corrida sempre foi coisa para poucos e tem um valor imenso na carreira do pilôto. Quem ganha essa corrida é visto como herói e assediado pela mídia imediatamente e nas semanas que se seguem. Além disso a notícia vôa pelos quatro cantos do planeta. No momento em que Emerson ganhasse essa prova adquiriria uma outra importancia no automobilismo mundial.

1989 foi o ano da glória de Emerson na Cart. Ganhou o campeonato e também venceu a 500 Milhas. Venceu 5 corridas nas quais não largou na pole, marcou 5 poles naquele campeonato, e somou 196 pontos, a sua melhor pontuação na categoria. Para os padrões americanos era uma lavada. Se Emerson não têve moleza na F1, concorrendo com os maiores nomes do automobilismo mundial, na 500 Milhas de 1989 não foi nem um pouco diferente. Estavam presentes na pista Al Unser Jr. com quem Emerson decidiu a corrida de forma dramática nas últimas voltas, Raul Boesel que chegou em terceiro, Mario Andretti, incrível pilôto e amigo de Emerson dos tempos de F1, A J Foyt, quatro vêzes vencedor dessa prova, Arie Luyendyk que seria o vencedor no ano seguinte, Rick Mears, o Rei dos Ovais, Al Unser Sr. que venceu essa prova também quatro vêzes, Bobby Rahal, vencedor uma vez, Gordon Johncock, duas vezes vencedor da Indy 500. Enfim, Emerson estava no meio de competidores experientes.

A sua equipe, a Patrick Racing iniciou o ano com uma novidade para complicar a vida de todo mundo. O antigo pacote, March Cosworth, foi substituido por Penske Chevrolet, uma combinação que se mostrou matadora naquele ano. Tanto que depois da Indy 500 Emerson, que não completou a prova seguinte em Milwaukee, venceu em Detroit, Portland e Cleveland em sequencia.

Emerson estava no segundo casamento com Teresa Hote e o seu irmão frequentava o mesmo lugar que eu e nos víamos todas as semanas. Seria natural que no dia da 500 Milhas nos encontrássemos na chopperia que frequentávamos. Claro que havia uma grande expectativa nossa em relação à corrida e estávamos psicológicamente preparados para uma corrida longa que acompanharíamos com uma certa quantidade de um delicioso chopp.

Emerson liderou grande parte da prova e por um momento as voltas dêle na liderança se tornaram algo um tanto repetitivo mas sabíamos que essa prova sempre trazia surpresas. Falávamos tanto da prova quanto dele o tempo tôdo. Do ponto de vista do público que assiste pela televisão, a prova começa a se tornar ansiosa quando vai chegando no final. Há a questão do combustível, do cansaço, do desgaste mecânico, uma série de coisas que tornam o final uma situação inquietante.

Nas voltas finais Emerson fez um pit stop que não foi dos melhores e ainda por cima voltou à pista com mais combustível que o necessário. Al Unser Jr. vinha na segunda colocação e começou a se aproximar muito rápido. A minha cara de desilusão e a mesma do cunhado do ponteiro da corrida ficaram bem evidentes quando Al Unser Jr. ultrapassou Emerson no fim e abriu distancia. Nessa hora o nervosismo já tinha tomado conta e eu estava assistindo a corrida em pé e mal ouvia o que acontecia no bar. Meu amigo já se sentia decepcionado e eu idem. Aquilo me deu uma estranha sensação de desilusão. Eu queria ver Emerson ganhar a corrida e estava vendo-o perder. Mas as voltas nos ovais são muito rápidas e em Indianapolis muito velozes. Vendo a corrida eu disse: “O Unser vai pegar transito e o Emerson vai encostar”. Seu cunhado fez uma cara de desaprovação e eu não me esqueço da minha resposta: “Voce não sabe com quem a sua irmã se casou”.

E foi como profecia. O trânsito chegou e mesmo estando muito rápido, quem vem atrás pode encontrar alguem na frente num momento em que a ultrapassagem pode se tornar um acidente. Naquela época os carros da Indy chegavam na hum a 390 km/h. Um mínimo erro e a corrida acabaria no muro. A adrenalina cresceu aqui em São Paulo com Emerson encostado em Al Jr. decidido a ultrapassar, numa das mais nervosas perseguições que já vi em uma corrida. E finalmente êle emparelhou com Unser Jr. da forma mais esportiva possível e a mais apertada também. Numa entrevista Emerson disse que nem respirava nessa hora e que partiu para o tudo ou nada. Na verdade foi a posição dos dois e acabaram se tocando na curva três. A roda dianteira direita do carro de Emerson pegou na carenagem do carro de Unser e este foi para o muro. A nossa reação imediata foi tal e qual a uma final de copa do mundo com vitória da seleção. Gritos, geticulações e pulos de comemoração. Emerson cruzou a linha de chegada em bandeira amarela e se tornou o primeiro brasileiro a vencer a 500 Milhas de Indianapolis, coisa que repetiria outra vez na Penske em 1993, também com motor Chevrolet. E se tornou o nosso herói definitivo também. Nesse dia Emerson inscreveu o seu nome na história do automobilismo mundial e não apenas em uma categoria. Vai ser lembrado sempre como um dos maiores pilôtos da história. Claro que naquela semana, na verdade no dia seguinte mesmo, voltamos ao local para as devidas comemorações no nosso estilo habitual - brindando.

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