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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Clemenceau, voce já andou de kart?

É como o Giba costuma me chamar.
- Não Giba. Tive muita vontade, até quiz fazer escolinha mas não fui. Passou.
- Vamos andar de kart?
Diante da pergunta pensei: "Andar de kart? A essa altura do campeonato? Esse cara pirou".
Dias em que a vida está chata e lenta, muito lenta, quando eu pensava constantemente em como por ordem na casa. Mas não em pista. Vou fazer o que numa pista? Declinei da proposta com uma dessas desculpas bem esfarrapadas.
Passa mais uma semana e a pergunta vem igual.
- Uma hora a gente vai.
Passa mais outra e a mesma pergunta. Certo, então vamos andar de kart. Vamos lá.
E um belo dia lá fui eu. O que era grip de pneu de competição, escapadas de traseira, tomada, tangencia e etc., eu já sabia bem pois passei alguns anos vendo e ouvindo sobre isso no autódromo. Mas uma coisa é voce saber como é. Outra é fazer na prática. Então um dia fomos ao kartódromo e antes da saída do box vieram as devidas recomendações. Entre elas uma muito clássica do meio. Me siga, venha atrás de mim.
Então num determinado momento ligaram os motores e fomos nós para a classificação. Ao chegar na curva dois o Giba olha para trás e faz um sinal com a mão para segui-lo e acelera. Eu fiz o mesmo e virei o volante à direita e pisei. O kart, sem a menor consideração com os meus 50 anos, me respondeu de muito mal humor com uma atravessada, à qual eu respondi com uma tirada de pé imediata e um giro no volante para o lado oposto. O Giba desaparecia na minha frente em velocidade crescente e pensei: "au revoir monsieur, nos vemos na lanchonete".
Eu sabia que slicks só tinham grip se aquecidos. Mas afinal de contas quando é que realmente estão aquecidos? Se voce acelera em curva ele vira para um lado. Se voce tira o pé na curva, sai de frente. Se voce freia, roda. O que essa máquina dos infernos quer de mim?
Fiz a classificação com o tempo de aproximadamente um feriado de sexta-feira atrás do líder. Então deram a largada. Dei tchauzinho para todo mundo e comecei a minha primeira corrida de kart na vida. O mundo passava muito rápido, nem sempre vinha da mesma direção e não parava de tremer. Às vezes eu estava indo numa direção e de repente via na minha frente a parte da pista na qual tinha acabado de passar. Eu freava pensando que o kart fosse parar, o que não é necessáriamente verdade. E meio inconformado com a falta de profissionalismo do meu freio resolvi mostrar a ele quem dá as ordens pisando de forma convincente. Ele me respondeu com a visão do lado oposto da pista antes que eu pronunciasse o ´i´ do ´xiii´.
Definitivamente a nossa relação começara muito mal e estava se tornando antipatia mútua. Resolvi ser político e me conformei com a falta de sociabilidade dele. Achei que não deveria lhe exigir mais nada, mesmo considerando que eu o tinha alugado por 30 minutos. Aí eu aprendi na prática que essa estória de o cliente ter razão é a maior conversa fiada. Tudo depende do ponto de vista.
Achei que as coisas ficariam melhores quando inesperadamente os meus amigos apareceram ao meu lado mais de uma vez. Mas algo estava errado porque nem ao menos olhavam para a minha cara. Pensei que a nossa amizade não era mais a mesma e senti uma sensação de desprezo. Porque será que eles me deixavam lá andando sozinho sem compania? As pessoas estão ficando cada vez mais egoístas. Afinal apareceu a bandeira quadriculada e me encaminhei ao box onde deixei o meu mal educado equipamento sem ao menos dizer-lhe ´até logo´. Saí andando com cara de Mr. Bean no pit lane e o Giba me pergunta como foram as coisas.
- Ótimo, tudo bem. Andei de kart. Muito bom.
Tinha matado a minha vontade de andar numa pista no dia 15 de outubro de 2005. No resultado aparecí em sexto num grid de nove, 3 voltas inteiras atrás do líder. Com o significativo detalhe de que o oitavo e o nono não estavam na pista. Tinham quebrado.
Passaram-se alguns dias e o Giba pergunta:
- Clemenceau, quando vamos andar de kart?

3 comentários:

Anônimo disse...

Zé,que delicia poder dizer que depois de toda turbulência... veio a deliciosa satisfação!
Saiba que você é uma referência sempre que o Gilberto tenta levar alguém para o kart!
Parabéns pelo blog, seu texto bem humorado, é uma prazerosa leitura, ainda mais falando bem do meu Giba!
beijo grande
CYNTHIA

Anônimo disse...

Ps:...e no dia 15 de outubro de 2005 o grande vencendor foi você!!
CYNTHIA

Anônimo disse...

Amei!! Realmente vc tem jeito para a coisa.. não sabia desses detalhes vc, talvez pelo machismo, rs,, não havia me contado tudo isso.. Continue vc. tem muito futuro. Pena que quando eu estava querendo mais, acabou!! Beijos
Helena