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domingo, 15 de fevereiro de 2009

No papo com Luizinho, lembrei....


Ontem foi dia de Campeonato Paulista de Automobilismo em Interlagos. Depois da participação da equipe MFG, capitaneada por Luiz Pereira Bueno, conversei um pouco no box da equipe com êle. No meio da conversa falei sobre as arquibancadas. Ontem teve público. Tinha bem umas 12 pessoas no total. Caramba, alguem estava lá vendo corridas, não é mesmo? No bate-papo Luiz mencionou o calendário da Mahle onde no mês de Janeiro deste ano aparece uma foto do grid da primeira etapa do Torneio Nacional Ford Corcel em 29 de novembro de 1970, prova vencida por Luizinho. Quando vi a foto me chamou a atenção a arquibancada. No grid tinham 25 carros. Na arquibancada não havia lugar para ninguém. Émerson só seria campeão de F1 dois anos depois e Pace teria aqui nesse mesmo autodromo a sua única vitória na F1 em 1975. Depois de Pace se passaram 8 anos até que Piquet conquistasse sua primeira vitória no GP Brasil de F1, mas isso se deu em Jacarépaguá e não aqui. Sómente em 91 Ayrton Senna venceria novamente em Interlagos. Um hiato de 16 anos.
O que segue são as minhas opiniões e não as do Luiz.

Em 70, um ano depois do homem ter desembarcado na Lua, o Brasil era tri-campeão de futebol e trouxe a taça Jules Rimet definitivamente para o Brasil, a qual foi mais tarde roubada e possivelmente derretida. Deixamos de ser um país de segunda categoria e nos tornamos campeões, os melhores do mundo. Os môços do nosso automobilismo foram brigar lá do outro lado do oceano num esporte do qual tínhamos muito menos notícias do que hoje e também não interessava a tanta gente assim porque tínhamos aqui as nossas próprias provas de automobilismo, bastando ir ao autódromo para assisti-las. Quando Émerson ganhou o campeonato em 72 a leitura que o brasileiro tinha de si próprio passou a mudar. Tínhamos mais um esportista que era bom demais numa coisa dominada por estrangeiros, tal e qual havia sido o futebol. Eu era adolescente e se falava de Émerson e Môco constantemente. No futebol já éramos os maiores, coisa que nas nossas cabeças não seria mais tirada de nós. Em 75 Môco mostrou que tínhamos mais pilotos muito bons com uma vitória aqui, além das duas anteriores de Émerson. Essa vitória de Môco foi muito festejada por todos na arquibancada e nos boxes. Havia muita esperança na performance dele e o público o via com grande simpatia. Ele seria um sucessor no futuro. Infelizmente o rapaz que já esperávamos na época que fôsse nosso segundo campeão de F1, faleceu num acidente de avião com o amigo Marivaldo Fernandes.
Hoje em dia todos falam da morte de Senna como uma coisa chocante, muito triste, um acontecimento jamais esperado pelo público brasileiro, o que é a realidade. Mas nós dessa época lembramos que a morte de Môco deixou muita gente triste por aqui. Nós queríamos mais vitórias dele e queríamos que ele fôsse campeão também. Para os adolescentes da minha época, Môco estava se tornando ídolo e por isso passamos a desejar mais a F1. Passamos a viver a expectativa de novas vitórias brasileiras aqui no nosso quintal mesmo. Vitórias que não vinham. Ao mesmo tempo em que o futebol não ganhava mais nada além das habituais críticas aos técnicos e eventualmente as vaias. Nós não gostávamos de ver estrangeiros ganhando corridas de F1 aqui e também não admitíamos que o país tri-campeão do mundo, o maior de todos, o melhor futebol do planeta, apanhasse de outros que aos nossos olhos jogavam pior, embora tivessem eles mesmos os melhores resultados. Nós queríamos o máximo de novo, o mais alto, mais poderoso. Isto não poderia faltar.
Na minha opinião a vitória de José Carlos Pace mudou a leitura que o brasileiro fazia do automobilismo. Aumentou a expectativa. Era muito gratificante ver brasileiros aqui na nossa frente e na frente de estrangeiros, conquistando vitórias bem embaixo dos nossos narizes, porque isso era o máximo. As outras coisas do automobilismo não tinham tanta importância assim pois a categoria mais importante era outra onde tínhamos os nossos próprios campeões. Então eu penso que o interesse do brasileiro pelo automobilismo nacional começou a esfriar justamente a partir da vitória de Môco porque nos despertou a noção de que seríamos capazes de ver outros fazendo a mesma coisa e nós gostávamos muito disso. Para quem ia em Interlagos ver corridas, 16 anos são um tempo longo demais sem as vitórias que nós mais queríamos. Para piorar um pouco as coisas, foi na década de 70 mesmo que as corridas foram proibidas no nosso território, embora por breve período. Queira ou não a F1 no Brasil mudou a percepção que o brasileiro tem do automobilismo e a vitória de Môco em 75 foi um evento marcante nesse aspecto. Claro que cito isso como um dos fatores para justificar o desinteresse por corridas nacionais hoje, mas jamais a causa em si que é composta de muitos outros elementos além destes que citei.

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