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quarta-feira, 4 de março de 2009

IPANEMA era assim....

Hoje, a bossa nova é vista como uma tendência musical do passado. Mas, sem dúvida, representa um auge da vida artística e cultural do Brasil. Pouca coisa retratou tão bem o Rio de Janeiro como os versos do Samba do Avião de Tom Jobim, onde se lê "Rio, você foi feito pra mim" e "Rio, eu gosto de você". Na sua última entrevista no programa Jô Soares, Tom disse com muita naturalidade, que Nova York é bom mas é uma merda, enquanto que o Rio é uma merda mas é muito bom. Também disse que já não suportava mais ouvir Garota de Ipanema toda vez que entrava no elevador. Se você procurar agora na internet, fotos do bairro de Ipanema da cidade maravilhosa, vai encontrar uma metrópole com o mar à frente. Mas Ipanema já foi bem diferente disso e maravilhosa também. As fotos do post são da casa da família da amiga Elizabeth em Ipanema, no ano de 1928. Sem asfalto, sem calçada, sem nada além do mar. Ipanema é Ipanema, assim como o Rio é o Rio. A Beth esclarece com as lembranças de infância e adolescência.


Lembranças de uma infância feliz
Ipanema era assim....

Neste lugar, Rua Barão de Jaguaribe n º 101, entre as ruas Joana Angélica e Maria Quitéria, em 1928, foi construída uma das primeiras casas em Ipanema, sobre as areias da praia e da Lagoa Rodrigo de Freitas. Pertencia aos meus avós, que por lá passaram e ficaram encantados com a beleza local. A família residiu nesta casa, passando por três gerações de 1928 a 1965. Era comum na época, nomear a sua morada. Esta casa foi “ batizada” com o nome Villa de Santa Cruz, em homenagem à fazenda que o casal tinha no Maranhão. A casa ia passando por várias reformas, conforme Ipanema ia crescendo, terminando com quatro andares para descer até o nível da rua. Aos poucos as areias da praia iam se transformando em calçadas e asfaltos. Na janela de cima da esquerda, era o meu quarto e de minhas irmãs. Brisa da Lagoa Rodrigo de Freitas, brisa da Praia de Ipanema. Banhos de chuva, árvores para subir, ruas para andar de bicicleta e patins, carrinho de rolimã para circular, futebol e queimada na rua. Sorvete no Morais, sessão Tom e Jerry no Cine Pax, missa na Igreja da Paz, voley na praça da Paz. Lanche no Chaika, patins de gelo no Gelorama. Domingueiras nos clubes nos arredores. E tantas outras coisas.... Éramos seis filhos, três meninos e três meninas. Que farra! Mais ainda, os primos que vinham de Sampa para passar as férias. Tempos maravilhosos ! Não precisávamos de tantas coisas, só de nós mesmos e de nossas “ invencionices” e criatividade. Precisávamos sim daquela Ipanema inesquecível! Todos brincavam e descobriam o mundo juntos. Quanto prazer! O crescimento do bairro, acabou com o nosso sonho, não só o da Villa de Santa Cruz, mas de tantos outros também. A casa ficou vazia durante dez anos e acabou sendo substituída por um prédio, por volta de 1975, mais ou menos. Que saudades! Crescemos, sofremos e reinventamos nossos sonhos e modos de viver. Foi assim... E até hoje, curtimos as boas lembranças daquele tempo da Rua Barão de Jaguaribe n º 101. Sabemos do privilégio que tivemos em nossas vidas. Todos nós que moramos naquela “ morada” por tanto tempo.

Um comentário:

Henrique disse...

Doze anos depois da postagem, elogio o testemunho, muito bem contado. Vivi uma parte disso, pois morei muito perto, entre 1960 3 1967, num terceiro andar da Visconde, bem em frente ao Mercado São Nicolau (que ninguém mais sabe o que era, mas basta dizer que ficava no terreno da H. Stern. Imaginem que dava pra ver dali a Lagoa...