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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

São Paulo Indy 300 - uma alternativa bem vinda.

A chegada a etapa de abertura da Indy na cidade de São Paulo, causou o surgimento de uma grande quantidade de comentários, muitos negativos, sendo o mais veiculado a questão da possibilidade de chuva forte. Se a organização pretendia atrair a atenção do público, eu diria que começou bem, pois fala-se muito sobre a prova.

A divulgação do evento é intensa e até o presidente Lula está na lista dos personagens da divulgação. O clima de surpresa que se seguiu à notícia da realização do evento vai se transformando aos poucos em expectativa. Falta um mês para a prova e as obras estão em andamento. O tempo é muito curto, mas quem organizou o evento não é principiante e a agenda deve ser cumprida na íntegra.

Os dois maiores questionamentos são o tipo de pista, que será criada no sambódromo e na Marginal do Tietê, e a possibilidade de chuvas que impeçam a realização da prova. Mas ao menos nos comentários que eu li, não vi ninguem relacionar a presença da categoria no Brasil com o panorama do nosso automobilismo, um notório falecido.

Sempre que converso sobre automobilismo com amigos meus, a maioria pilotos da velha guarda, cito duas coisas particulares da atividade. Esteja em que veículo for você estará pilotando 4 pneus, que são os ítens mais criticos de uma pilotagem esportiva. E a segunda análise se refere às possibilidades dos pilotos brasileiros no automobilismo. Saindo do kart o piloto que quizer seguir carreira não conseguirá fazê-lo em território nacional. Sobram como possibilidades os campeonatos europeus e americanos.

O que levou o nosso automobismo a essa situação foi uma lenta deterioração da atividade no nosso território, a um ponto tal que as categorias de formação desapareceram. Um piloto que não tem a pretenção e nem as condições de seguir no automobilismo internacional, pode perfeitamente se contentar com a participação na Stock Car, sabendo que os anos em que estará presente na categoria o distanciarão mais ainda do cenário intenacional. Aos que podem sonhar com o automobilismo mundial, o nosso regional não oferece opções compatíveis.

O número de descontentes com o atual traçado do autódromo de Interlagos é muito grande e não se compõe apenas de pilotos. Os que se lembram das passagens em alta velocidade pela reta dos boxes, seguidas de disputas de freadas na curva hum, estão todos de cabelos brancos, tal e qual este que voz fala. O charme que aquele autódromo teve no passado, foi sepultado de vez a partir do momento em que Bernie Ecclestone impos as mudanças que resultaram no traçado atual. Juntando a isso à decadencia observada no nosso automobilismo, pode-se dizer, com algum exagero, que não temos mais autódromos nem competições.

Particularmente falando eu não sou fã de corridas de rua. Mas tanto a F1 quanto a Indy sabem como realizar uma prova numa pista criada nas ruas de uma cidade. Uma transmissão da Indy mostra como o público recebe bem a idéia de uma prova com esse formato. E o automobilismo vive de audiência. O automobilismo não produz nada de concreto que voce possa comprar ali no supermercado, e sim um espetáculo que o público irá assitir se lhe for atraente. O automobilismo vive da exposição de marcas, nomes e cores. É uma atividade onde a veiculação de imagem tem uma importância muito grande. O que levaria alguem a patrocinar uma equipe se não houvesse veiculação na mídia? Porque alguem veicularia um evento onde não há platéia?

Olhando para esse lado a Indy é muito bem vinda na capital paulista. Já tivemos uma fase anterior no Rio de Janeiro no autódromo de Jacarépaguá, hoje entregue às moscas e ratos. O autódromo de Interlagos é um símbolo do nosso automobilismo, mesmo tendo o seu traçado mutilado. Mas não voltará mais a ser o antigo autódromo que foi no passado. Este mesmo autódromo passa a maior parte do ano com as arquibancadas empoeirando. É positiva uma ação que acrescente uma variação no automobilismo, mesmo que seja uma prova internacional. É um momento em que muita gente entra em contato com equipes e empresas do país de origem da categoria. Não podemos nos esquecer que a F1 no Brasil deu certo depois de uma prova experimental em Interlagos. E que justamente nessa época o profissionalismo esteve em alta no nosso automobilismo. Os europeus passaram a ver aqui mesmo e nas suas televisões, que o Brasil tinha autódromos, pilotos e equipes. E isso foi parte do ambiente que justificou o profissionalismo na atividade.

Em relação à logística, a Indy acerta muito quando cria uma prova num local a pequena distancia de uma estação de metrô, situação que até onde sei apenas essa prova contempla no nosso território. Em relação ao custo benefício não podemos esquecer que por se tratar de uma primeira exibição, os ingressos são acessíveis, com preços variando entre R$100 e R$500. A reta do traçado é a maior no Brasil com 1500 metros de extensão. Isso cria um questionamento em relação às disputas, onde o motor vai falar alto. Mas também é nessas retas onde há mais visibilidade para o público. 

A entrada de mais um categoria internacional no nosso calendário de eventos não pode ser ignorada. É um acréscimo num ambiente onde somam-se faltas. Pois que venha essa e que seja bem organizada e bem sucedida. É mais uma opção para quem gosta de automobilismo. E que venham outras se for o caso. Quem sabe não é exatamente isso que o Brasil precisa para recriar o ambiente de automobilismo que no passado já levou muita gente às arquibancadas. Se isso se der novamente e houver fator contribuinte de fora das nossas fronteiras, não vejo mal nenhum.

Website da prova: http://saopauloindy300.com.br/

2 comentários:

Unknown disse...

Zé, me desculpe, que seja bem vinda a Formula Indy, eu não gosto, acho que corrida em pista oval é coisa de americano bundão. Se não me falha a memória, o único campeão da Indy que se criou na Formula 1 foi o Andretti.
Um abraço.

Zé Clemente disse...

Pedro, é uma questão de referenciais. Quem gosta mesmo de Indy são os americanos na maioria. Mas há público adicional, inclusive no Brasil. Nós ficamos numa situação de miserável embaixo de ponte. Não temos automobilismo, não temos mais o nosso mais importante autódromo, e corrida acabou virando um evento anual que é de propriedade de um cara apenas. Isso é igual a ter nada. E hoje nós temos efetivamente nada.