fragmentos do livro de Jan Balder e comentários do Amigos Velozes.
Livros podem ser interpretados de variadas formas pelos seus leitores. O livro de Jan, do qual tenho reproduzido pequenos trechos últimamente, sem dúvida nenhuma é um apanhado geral do nosso automobilismo, focado nas suas passagens mais significativas.
Livros podem ser interpretados de variadas formas pelos seus leitores. O livro de Jan, do qual tenho reproduzido pequenos trechos últimamente, sem dúvida nenhuma é um apanhado geral do nosso automobilismo, focado nas suas passagens mais significativas.
Mas é fato concreto que o tema tem grandes doses de romantismo e o livro não foge dessa condição, especialmente quando relata cenas hilárias, bastidores até então desconhecidos do público, e fatos que nos dias de hoje não fazem parte do comportamento geral dos pilotos. Como, por exemplo, uma aposta entre dois pilotos que resultaria na aposentadoria de um deles. O fato se deu nos 500 Km de Porto Alegre em 1968, conforme relata Jan Balder nos parágrafos que seguem.
Nesses 500 Km de Porto Alegre passeamos pela pista sempre à frente com o BMW. Na primeira volta, a diferença era de mais de 30 segundos e o “Turco” José Azmus não acreditava. Ele havia apostado com o Bird Clemente que abandonaria a sua carretera, caso perdesse. Bird Clemente aproveitou a situação e lhe propôs comprar o possante motor Ford Edelbrook para colocar no seu Galaxie de passeio. Aposta da moderna tecnologia (BMW) contra um Ford 1938! Eu venci a corrida em dupla com o mito Chico Landi. Foi uma grande emoção.
No dia seguinte, acompanhei o Bird Clemente ao posto de gasolina do José Azmus para a cobrança da aposta. Ele olhou para a carretera e disse: “Tenho todas as peças originais da carroceria aliviada. Vou transformá-la em carro de rua e dar de presente para Homero Zani, meu fiel mecânico de muitos anos”. Olhando para o Bird , completou:”O motor é seu. Dê uma volta para sentir a preformance”.
Bird entrou na “barata” e eu sentei no tanque traseiro. Saímos pulando feito cabritos no calçamento de paralelepípedos e, na primeira acelerada, lembrei do que Jorge Lettry dizia sobre o eixo traseiro, que não era apresentado ao solo.
O carro era uma cadeira elétrica: posição de guiar quase em pé, câmbio seco (sem anéis sincronizadores) e, da primeira para a segunda, o piloto dobrava o cotovelo de tanto curso!! Sentado no tanque, engatei a segunda marcha para o Bird... Os freios a tambor eram imprevisíveis: cada vez puxavam para um lado. A dura suspensão, com pneus diagonais altos de camionete, com seus lonas, faziam o carro mudar de direção, “caçando frango”, como se diz na gíria.
Depois da experiência, comentei com José Azmus que ganhar com o BMW tinha sido fácil, mas para andar com aquela carretera tinha que ser herói.
Se há um veículo no Brasil que merece o título de transformer no mais alto grau, é a carretera de Camilo Christófaro que corria com o número 18. É um carro que nunca acabou pois enquanto esteve na ativa era moficado ano a ano. Do automóvel de passeio que deu origem ao carro de competição, sobraram apenas algumas partes do chassi. O restante era uma união de tantas coisas diferentes e tantas modificações estruturais que o transformaram naquilo que todos diziam ao vê-lo na pista - a carretera do Camilão.
Na minha muito modesta opinião, essa fase das carreteras originou o que eu chamaria de uma consciencia do automobilismo nacional. Eram carros americanos da década de 30 e 40, totalmente modificados no antigo modelo de preparação que chamamos de “garagista”. Os carros eram muito pesados e portanto eram aliviados ao máximo, enquanto os motores eram otimizados (envenenados) para a obtenção da maior potencia possível. Tudo se dava por esforço do piloto e/ou preparador, e o maior trunfo era o conhecimento da mecanica e o genio inventivo que determinava quais modificações deveriam ser feitas e como. Como a potencia era o principal fator do desempenho total, uma vez que esses antiquados carros não tinham boa performance em curvas, o conjunto se tornava preocupante do ponto de vista da dirigibilidade. E queira ou não, o piloto deveria compreender muito bem as reações do carro, noção essa que passava pelo saber das modificações efetuadas. A meta era andar na mais alta velocidade.
No texto acima, Jan nos passa a concreta impressão de que andar num carro desses era uma aventura dificil de descrever. Entendo, com base no que li e ouvi sobre esse formato de competições, que aí surgiu o embrião daquilo que devemos chamar de automobilismo nacional. A nova geração de pilotos teve como missão básica derrotar a determinação e vivencia de outros que pilotavam carros antiquados. Essa migração do antigo para o moderno é um impressionante contraste com os dias atuais, em que ao sair do kartismo o piloto tem quase nenhum horizonte no território nacional. Não há dúvida de que as carreteras e seus corajosos pilotos eram a grande inspiração dos então futuros campeões.
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