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domingo, 9 de janeiro de 2011

Ayrton Senna - o que eu penso que deu fim à vida dele

O vídeo deste post mostra uma entrevista com Schumi e Senna em Ímola, em 1994. Entendo que aqui Ayrton Senna, e tambem Schumi, dão as pistas efetivas para as razões do acidente. Não o determinante própriamente, mas os contribuintes, que no meu entender criaram o cenário favorável a um acidente, que poderia ou não ter acontecido na Tamburelo.

Quando se fala sobre a morte de Ayrton Senna a primeira coisa que é comum em termos de manifestação é o sentimento de perda de um piloto que foi ídolo, e em segundo lugar costumam aparecer as discussões que visam justificar que o culpado não foi ele pelo acidente e sim a equipe.

No meu entender não é exatamente assim e ele próprio tem uma grande participação no evento em termos de responsabilidade. Todos os pilotos de competição sabem que correm risco de vida e os da F1 sabem que estão constantemente muito próximos da possibilidade de um acidente fatal, mesmo na F1 de hoje. Sabem que estão se expondo a riscos de forma consciente. Quem senta num carro desses nem pensa em qualquer momento na possibilidade de um acidente. Os pensamentos do piloto a partir do momento em que se dá a partida no motor, estão todos voltados para a idéia de vencer a corrida. E na verdade não teem tempo para pensar em qualquer outra coisa a não ser naquilo que devem fazer para chegar onde querem. E a razão é a exigência do próprio esporte, de concentração máxima.



Em 1994 Senna não fez absolutamente nada e morreu na terceira corrida do campeonato. O seu rival tradicional não estava mais na categoria. Já havia ingressado outro competidor que não deixou dúvidas das capacidades e que foi sentar, com o apoio da grana da Mercedes, no melhor carro da categoria, que por sinal usava um motor que Nelson Piquet não poupava elogios em relação à performance. Senna tinha deixado a McLaren e isso tem muito significado. Foi na McLaren que Senna ganhou os seus títulos e é lógico pensar que a equipe foi a sua referencia.

É claro que ele tinha consciencia de que estava entrando em outro team e isso significava que pilotaria outro carro com outras pessoas como seus companheiros. Na McLaren ele sabia o que esperar da equipe e vice-versa. Na Williams era um momento novo em que o melhor piloto da categoria tinha sido contratado com o óbvio compromisso de ganhar corridas.

Tanto a saída de Prost da categoria como a mudança de equipe são coisas que evidenciavam uma perda das habituais referencias. A Williams óbviamente iria esperar por uma performance à altura de quem ele era, isso estaria implícito nas condições. E não é porque era Senna que não seria alvo de cobranças. Era uma nova etapa, uma nova relação, condição que fazia com que ele se obrigasse a mostrar serviço, coisa quem em 1994 simplesmente não aconteceu. É fácil inferir que ele esteve sob uma pressão razoável na terceira corrida.

Uma das suas capacidades inegáveis era fazer pole positions obtidas a partir da sua incrivel habilidade, coisa que colocaria uma expectativa positiva em relação ao seu provável resultado na corrida. E em Ímola ele conseguiu mais uma das suas poles. Mas isso era classificação e não corrida que para ser vencida deve ser concluída.

Em depoimentos que podem ser encontrados na internet, Michael Schumacher cita a traseira  nervosa do carro de Senna no dia da corrida. Ninguem consegue resolver uma tendencia de um carro de um dia para o outro caso isso se deva a questões de concepção. E o próprio Senna citou na ocasião que a traseira do carro não era fácil de ser dominada.

No video que acompanha esse post, no meu entender Senna e Schumi dão a resposta para o que levou Senna à morte. A competitividade em nível extremo e condições desequilibradas entre um e outro, coisa que dava confiança a Schumi e que rendia muita expectativa e esforço a Senna.

Logo no começo da entrevista Schumi já dá um sinal de que não esperava que a disputa do campeoanto fosse menos ácida, mas sim que a vantagem viesse a diminuir entre a Benetton e a Williams. Considerando-se a equipe em que Senna estava e as suas próprias qualidades, era natural esperar por uma reação. Schumi não deixou de lembrar que ainda havia 14 provas no campeonato, portanto, tempo para que a situação mudasse podendo até mesmo inverter-se.

Senna em seguida diz que estava começando do zero na fase européia do campeonato. Isso tem muito significado pois naquela época a parte mais importante do campeonato se dava na Europa e lá, mesmo começando em desvantagem, os resultados não poderiam ser ruins pois era o início da fase mais competitiva dos compeonatos de F1. Ou seja, tudo que se pudesse conseguir naquele momento tinha valor maior.

Senna diz que a equipe estava consciente do desafio de recuperar chão em relação à Benetton e, muito importante, que tambem sabiam que tinham capacidade de melhorar a performance do carro. Coisa que na Benetton já era situação consolidada. Tanto que na sequencia Schumi diz que a equipe se beneficiava da condição estrutural geral, que tinham ao todo uma boa performance, que poderiam tirar todo aproveitamento possivel nas corridas.

Em seguida Senna admite que tinham problemas na Williams mas acreditava que tinha um bom carro e não deixa de citar o motor, parte muito importante da performance de um carro, coisa que na Benetton não deixava dúvidas sobre a confiabilidade. Em outras palavras Senna está dizendo que tinham dificuldades a serem superadas que o deixavam em desvantagem em relação ao alemão. E isso num início de campeonato com zero pontos nas duas primeiras provas.

A parte mais importante de tudo é o momento em que Senna diz que a equipe trabalhava para resolver os problemas do carro e que especificamente para Ímola havia modificações, que óbviamente não poderiam ser citadas numa entrevista. Ou seja, o carro não seria precisamente o mesmo das duas primeiras corridas e as ditas modificações seriam testadas naquele fim de semana.

De volta a Schumi a entrevista foca na possibilidade de a Benetton não ter tanta vantagem sobre a Williams em Ímola, coisa que Schumi diz ser possível pelo fato de as condições da corrida serem mais favoráveis à Williams, do que foram nas duas primeiras provas naquele ano. Estava então consciente de uma reação próxima da Williams, o que claramente não iria levá-lo ao desanimo e sim à atitude de se manter no máximo da competitividade, pois estava esperando um competidor mais duro que nas duas primeiras corridas.

No final Senna é perguntado sobre a sua determinação de conquistar o quarto campeonato. O entrevistador lhe pergunta se realmente era preciso mais um. A resposta vem direta e óbvia, sim era o que ele queria.

Pelo desenrolar das declarações ficou fácil entender que Senna não tinha todas as condições à altura do principal concorrente e, começando do zero como ele mesmo disse, estava ainda esperando por soluções de problemas que ninguem poderia dizer se já viriam ali naquela corrida e que lhe deixavam em dificuldades para obtenção de bons resultados.

Apesar disso marcou a pole position na frente do alemão, e se o fez com um carro inferior que ainda necessitava de modificações para atingir desempenho melhor, estava então tirando do carro tudo que a sua habilidade, conhecidamente alta, pudesse alcançar. Estava levando o carro no limite máximo. E as ditas modificações, não mencionadas na entrevista, seriam testadas naquele final de semana. Um espaço de tempo curto demais para se desistir delas e voltar atrás caso não funcionassem a contento. Seria mais sensato pensar que quaisquer mudanças poderiam ser bem aproveitadas a partir daquela corrida e não necessáriamente nela em si. Poderiam gerar desdobramentos futuros ao londo do campeonato, como na verdade sempre foi na F1.

Por isso tudo entendo que o evento que abriu a contagem regressiva para a morte de Senna pode ter sido a quebra da coluna de direção, mesmo que eu discorde dessa versão. Mas que o que ocasionou a morte de Senna está fora da pista, como uma somatória de fatores contribuintes. Um dos problemas que são levantados é a velodidade do safety car, baixa demais para as necessidades de um F1, o que faria com que os pneus esfriassem, perdessem pressão e assim o carro ficaria mais próximo do chão ainda.

Relembrando a prova, na prática os pneus do carro de Ayrton nunca chegaram à temperatura ideal pois já no final da primeira volta entrou o safety car na pista. Quem já pilotou pneus de competição macios, mesmo não sendo em F1, sabe que a primeira volta é dificil se o pneu tiver esfriado. E em ritmo real de corrida, Senna só pôde pilotar na ultima volta da sua vida. Ele bateu na volta seguinte à relargada, portanto numa condição em que esperava mais aderencia nos pneus, agora mais aquecidos pela volta anterior, e portanto exigindo mais do seu carro. Presumo diante disso que naquele dia Senna nunca chegou a dar tudo que podia na sua Williams e que na primeira oportunidade de fazer isso, passou reto na curva e bateu no muro.

Somando tudo que se tira desde o inicio dessa entrevista até o momento da batida, é fácil concluir que Senna não tinha toda a segurança que o alemão sentia no seu carro, e que ainda por cima justamente nessa corrida o carro de Senna foi modificado visando melhor performance mas as ditas modificações seriam totalmente postas à prova durante a corrida, no transcorrer dela toda. E Senna na prática teve durante a corrida uma única volta útil em condição de aquecimento e uma única chance de dar tudo que pudesse no seu carro em ritmo de corrida.

A nenhum piloto do nivel de Senna, e com as suas conhecidas características de brigador ferrenho, é possivel pedir, e esperar que ele aceite, fazer uma corrida de forma mais conservadora afim de colher resultados ao longo do tempo. As condições dele naquele campeonato naturalmente o incitariam a dar tudo que pudesse afim de numa unica prova mostrar que a sua nova equipe e o novo carro eram competitivos. Ele precisava recuperar o chão perdido e a confiança. E os seus referenciais não eram mais os mesmos. Eram novas referencias num cenário de várias dificuldades e com um atraso importante no início daquele campeonado. Ele precisava de uma reação rápida.

E no meu entender a entrevista nesse vídeo deixa claro que o cenário estava montado para um risco alto demais, pois se tratava de um piloto que não enxergava outro horizonte que não fosse o da vitória. Que era alguem que não convivia calmamente com a possibilidade de não ser o primeiro, coisa que eu sei que ele tinha em si desde o kartismo.

E eu penso finalmente que isso tudo pode ter convergido na altura do carro em relação ao solo. Que isso tenha sido a mais importante condição para que ele pudesse perder o controle. Estando sentindo a necessidade de fugir do alemão na corrida e alcançá-lo no campeonato, faria o que pudesse para chegar nesse objetivo. E nos carros dessa categoria a distancia para o chão influencia diretamente o down force, pois ali no assoalho se cria uma zona de baixa pressão. Coisa que pode diminuir muito ou até se extinguir com o carro em contato direto com o solo, pois assim o ar deixa de ter o mesmo fluxo e o mesmo efeito. Tudo somado, traseira nervosa, modificações, pneus abaixo da temperatura ideal e mais outros detalhes, no meu entender dão sentido à possibilidade de que a altura do carro possa ter determinado, naquele momento de exigencia máxima, a perda do down force, coisa que poderia fazer o carro ir reto por alguns instantes. Instantes tais que, naquela curva eram um espaço de tempo pequeno para um retorno.

Não refuto a idéia da coluna de direção. Afinal o carro já não existe mais e o que for colocado como versão oficial passará a ser verdade. Apenas acho pouco provável, embora factível. Mas desconsidero a hipótese que já li sobre suicídio, coisa que ele teve chance de perpetrar antes daquela volta e não o fez. Também acho absurda a idéia de que ele tenha apagado dentro do carro pois o preparo físico dele era atlético. Acho que a questão está sim no carro e que a grande contribuição está fora. E que ele tem muita responsabilidade pois colocou tudo à prova, na única volta boa que teve naquele dia, pelo fato de não aceitar uma performance sua que não fosse a melhor. Afinal ele já tinha tres títulos e afrmou que queria conseguir o quarto. Estava determinado claramente a isso e faria o que pudesse. Era o seu perfil.

2 comentários:

Sérgio Deffente disse...

Interessante o seu estudo de caso, faz sentido...eu particularmente acredito que da batida do carro no muro até a morte, ha um enorme gap, pois A.Senna não sofreu nenhuma fratura ou algo que pudesse leva-lo a óbito, se não fosse a perfuração no capecete através do pedaço de uma peça quebrada da barra de direção, (conforme divulgado oficialmente pela pericia na epoca) ele sairia totalmente ileso...então meu amigo, são coisas que por mais que agente tente entender ou achar um culpado, não conseguimos, simplesmente porque não há...como você disse e eu concordo, houve uma serie de combinações de fatores que levou o carro ao muro - porem não era o suficiente para tira-lo a vida... não tem explicação, pode chamar de azar, destino, não sei, talvez nunca saberemos...o que ficou foi a saudade e a lembrança de domingos vitorios, e o mais importante um exemplo de pessoa a ser admirado e seguido.

Anônimo disse...

Se ao menos tivessem pensado em colocar uma proteção de pneus com uma camada de uns 3 pneus a frente do muro em torno de onde Senna bateu, e Ratzenberger... Ou seja, se locais de velocidade alta tivessem a proteção mínima adequada... Como 2 curvas de alta, quase sem distância alguma da pista, no lado para onde o veiculo pode ser projetado pela força centrífuga, não havia proteção alguma?... Faltou também pensarem nisto... E os 2 estariam com certeza vivos até hoje... Vale lembrar que, graças aos pneus, Schumacher e Burti se salvaram quando seus carros bateram quase de frente na proteção de pneus... O que no muro seria fatal...