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sexta-feira, 11 de março de 2011

Procura-se piloto de F1 com curso e prática comprovada em acrobacias aéreas




Emerson Fittipaldi nunca escondeu o seu desagrado com os carros asa, argumentando que você não conseguia perceber bem as reações do carro e caso as minisaias deixassem de fazer o seu papel em algum momento, você virava passageiro sem saber e em velocidade muito alta.

Um dia desses, vendo imagens de antigos carros da F1 no Facebook, vi uma foto de uma Surtees que me chamou a atenção na hora. Todo o design do carro é muito fluído, sem frescuras, penduricalhos, volteios, depressões e coisas assim. Você olha na foto e identifica um carro de corridas monoposto, no caso um F1.

Também a decoração era muito bem balanceada. Carenagem com o branco predominando e as inscrições em verde, destacando-se muito no conjunto. Além disso a mecânica ficava exposta, como era comum naquela época.

Hoje os carros da F1 não são própriamente maravilhas da tecnologia, mas aberrações competitivas de altíssima performance. São design´s esquisitos onde o efeito aerodinâmico dita a estética, prevendo espaço conveniente para incrições que mais parecem marca de roupagem do que anúncio de patrocinadores. Os números que antigamente qualquer caolho daltonico com 8 graus de miopia enchergava, hoje precisam ser procurados no Photoshop.

Enfim, essa F1 de hoje não atende, na minha forma de pensar, um dos intuitos mais básicos da organização de um evento de competição automobilística. Fazer o público identificar os carros por sinais, entre êles os números, de tal forma que a associação com os patrocinadores se torne automática.

Conheci muita gente que foi ao autódromo porque sabia que ía ver o Maverick da Hollywood. Amigos meus que viram Nelson Piquet na F Super Vê se lembram que ele era patrocinado pela Gledson. E assim por diante. Ah, me lembrei agora que na Opala Stock Car, 22 era o número do Paulão. E quem não se lembra do Banco Nacional na época do Senna ou da Bardahl na época do Emerson?

Recentemente mais uma das idéias exóticas de Bernie Ecclestone fechou o currículum de imaginação biliardária. Ele cogitou de inventar um sistema que afinal se manifestaria num simples botão Start Rain / Stop Rain. Claro que empregaria zilhões no desenvolvimento de uma chuva artificial que enlameasse a pista tôda enquanto os espectadores ficariam sequinhos na arquibancada. Alguém diria: “Puxa, ele pensou em nós na hora de fazer chover!”.

O vídeo desse post mostra mais uma das loucuras que não combinam bem com o conceito de pilotagem no seu modo mais clássico. Asas traseiras que se movem convenientemente e assim alteram o arrasto aerodinâmico, o que por sua vez cria um diferencial entre dois carros que resulta em aproximação e eventual ultrapassagem.

Claro, há de ser controlada pelo pilôto durante a pilotagem. No meu humilde e meio empoeirado entender, isso é coisa de quem tem dinheiro em excesso e usa o dito cujo para pensar. Sim, dinheiro não pensa mas faz pensar. E quanto mais dinheiro maior a besteira a ser pensada.

Está certo Rubens e mais outros pilotos que questionam o novo recurso e apontam a possibilidade de uma escapada violenta e imprevista. E para dizer que está certo, até um asno como eu consegue sustentar que a atenção do pilôto deve estar voltada para o comportamento do carro, sempre esperando sintomáticamente que algo possa sair errado e ele tenha que tomar atitude instantânea. Isso é muito diferente de provocar mudanças em ítens que alteram a performance de forma imediata, e então o momento, a duração e a intensidade dessa mudança vão determinar se tudo foi bem feito ou se resultou em um desastre maior do que a perda de posição na corrida.

Eu acho que está mais do que na hora de a F1 definir um novo pacote onde o pilôto tenha o compromisso de pilotar uma engenharia e um setup conhecido e fixos até que isso seja alterado no box e/ou no regulamento. Se isso não acontecer é muito provável que algum dia alguem demita um pilôto porque ele não sabe acionar uma asa da mesma forma que um aviador. Isso poderia perfeitamente levar à aberração de se admitir na equipe apenas pilôtos que tenham no seu curriculum um curso de acrobacias aéreas.

Pilôtos de qualquer tipo de carro de competição pilotam, sempre pilotaram, e sempre pilotarão quatro pneus. Isso enquanto não aparecer algum estúpido que invente rodas multifacetadas de materiais compósitos de ultra super hiper tecnologia. Pra mim, pilotagem deveria ser só no braço. E isso quer dizer pilotar o volante em si, como sempre foi.

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