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segunda-feira, 7 de março de 2011

Velocidade na terra em SC - levantando poeira, como era antigamente

Quando digo que o automobilismo brasileiro está de mudança para o sul do país, penso que alguns que lêem essa minha afirmação devem pensar que estou delirando. Eu mesmo sou uma espécie de ET da velocidade que acompanhou o automobilismo nacional mas nunca guardou registros. Nunca pilotei num autódromo e mato a minha frustação em corridas de indoor na Granja dividindo curvas com caras bem rápidos. Dou manutenção nos meus carros e não sei preparar um de pista, mas já desenhei dois chassis tubulares. Então eu não sou nem da frente nem do fundo do pelotão, apenas uma meia bôca que adora velocidade.

Aliás, em velocidade não cabe o conceito ‘eu gostava de corridas’, eu ‘eu gostava dessa adrenalina’. Velocidade é um virus que te pega e nunca mais cura. E é por isso que compareço sempre que posso no único autódromo da minha cidade, o histórico Autódromo José Carlos Pace, conhecido como Interlagos.

Não me preocupo mais em olhar para as arquibancadas em Interlagos porque sei que não vou ver nada quando estiver lá. E há muitos anos havia. Havia público, corridas, cachorro quente, meninas assanhadas, turminhas e tudo mais. Acabou, nada disso existe mais e restaram os saudosistas da vida que, alguns deles com mais dinheiro do que eu, conseguem por os seus carros na pista.

Mas em Santa Catarina a coisa não é exatamente assim, conforme pude ver no vídeo do link abaixo, do blog Poeira Na Veia do Francis Henrique Trennepohl.

Programa "Velocidade" 05/03/11



Nesse post há um vídeo com uma etapa do Catarinense de provas de terra. Achei genial apesar de ser um grid meio magro. O cenário não poderia ser melhor. O nosso automobilimo teve início na primeira metade do século passado em estradas e circuitos de rua com carros modificados para corridas. Mais tarde construiu-se o primeiro circuito fechado do Brasil, o de Interlagos, e aí deu-se início a uma fase do automobilismo que resultou em momentos espetaculares e finalmente numa agonia que não pára mais, que são os dias de hoje dessa atividade.

Essa prova do Catarinense mostrada nesse vídeo mostra uma coisa muito diferente do que estamos habituados a ver no automobilismo. Pista estreira, terreno inclinado, mescla de asfalto e terra. E que não se engane alguem ao dizer que não há ultrapassagens nessas condições porque aí as oportunidades podem surgir num piscar de olhos. Voce está andando em pista seca e escorregadia. Qualquer coisinha o carro escapa e isso é suficiente para voce ficar para trás. E para recuperar depois é um suador.

Guard-rails, segurança, áreas de escape, arquibancadas? Tudo besteira. O que tem é disputa em um lugar onde não se vê o final de nenhuma das curvas e a arquibancada é o ponto mais alto onde voce possa se posicionar. A geologia faz a vez de guard-rail e se voce sair da pista vai dar com a lateral num barranco mesmo. Para quem está acostumado a pilotar no asfalto sêco, é bom lembrar que ali grip é uma coisa que só acontece num trilho. Saiu dele já era.

E por último, se você é um matusão como eu que adorava ver Opalas saindo de traseira em curvas, então lá é o lugar certo. O programa do dia começa justamente com uma prova de Opalas. Ah, você vai dizer que a pista não ajuda, então não anda muito e que no asfalto é mais emocionante. Tá, então arruma um carro e vai lá acelerar.

Faço uso aqui do pensamento do meu amigo Chiquinho Lameirão sobre a pilotagem em rallies que ele classifica de muito perigosa e portanto muito emocionante. Aqui não se trata de um rally de velocidade mas as dificuldades não são nem um pouco pequenas, especialmente nas curvas em declive.

Enfim, eu penso que automobilismo é desse jeito e que nossos irmãos do sul são muito mais apaixonados por automobilismo do que nós atualmente. Tanto que nessa prova em Lontras, duvido que você encontre algum metido que não iria num lugar desses só porque vai comer poeira da pista. Lá a poeira é parte do espetáculo e sem ela é o mesmo que dizer que não houve corrida. E está certo porque automobilismo antigamente levantava pó, e muito pó. Hoje nem isso tem mais.

Um comentário:

Francis Henrique Trennepohl disse...

Valeu Zé, obrigado pelo espaço destinado à terrinha!
Realmente os grids estão magros aqui no Catarinense de Terra.
Já houve épocas em que era necessário fazer bateria de repescagem na Marcas N, onde tinham 4o, 44 carros inscritos.
Tomara que um dia você possa vir pra cá conferir in loco o sabor e o calor da poeira!
Grande abraço