Páginas

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Kartboy, uma nova modalidade de kartismo



“Sou a favor porque a chance de acidente é bem menor. O problema não é a largada, mas a consciência dos pilotos. Acho que como todos nós estamos na luta para conquistar uma vaga na categoria principal, às vezes a disputa passa dos limites”.

A frase acima é do falecido Gustavo Sondermann da Copa Montana em entrevista ao Diário Motorsport, falando sobre a segurança no que diz respeito à conduta dos pilôtos. O destaque no texto é meu.



Infelizmente a nossa sociedade está primando por se comportar contínuamente de forma agressiva, egocêntrica, invasiva em relação aos limites dos relacionamentos. Me parece estar se tornando um tipo de senso comum. É o nítido caso dos motoboys, que não param de dar demonstrações de desinteresse no enquadramento social. Se julgam donos das ruas e se caracterizam convenientemente como uma classe absolutamente à parte, como se nem ao menos fizessem parte da sociedade. Acho até que não querem mesmo fazer parte dela num formato de integração sadia e estética.

Temos demonstrações dessa natureza num esporte onde a ignorancia até já matou, o futebol. Uma situação onde o boxe não se encaixa porque ali a questão é vencer na pancada própriamente. Em outros, como o kartismo por exemplo, a idéia é mostrar superioridade de performance. Isso envolve muitas coisas, incluindo técnica de pilotagem, contuda, arrôjo e pensamento ligeiro.

A nossa santa adrenalina mensal é o nosso momento de mostrarmos a nós do que somos capazes em um determinado evento. E no nosso caso no Kart São Paulo, isso se dá pelo ano inteiro em dez etapas. Apenas para salientar (acho desnecessário), a última etapa definiu quem está no grupo Master e quem está na Light. Isso com base nos resultados obtidos até aquela prova. Isso quer dizer que uma das 3 é decisiva. Para quem está pendurado na pontuação após a segunda etapa (meu caso), a 3a. é a única chance de voce definir onde vai pilotar. Eu estava em 23o. e precisava de uma bôa colocação para compensar o resultado da segunda estapa.

Alguns amigos meus sabem que a minha participação no campeonato é difícil. Entram algumas coisas importantes em consideração, nas quais não vou entrar em detalhes para não deixar a impressão de que tento transferir dores minhas aos outros. De uma maneira geral se tornou uma coisa um tanto sacrificada.

Vou mensalmente para a pista ansioso pelo momento de ligarem o motor do meu kart. Falava nessa última etapa com o meu amigo Paulo Tohmé, que aquilo é uma coisa que eu preciso para o meu bem estar, que me faz esquecer naturalmente do mundo, absorvendo a minha concentração e interesse.

Estamos falando de esporte amador. É amador mas é esporte e no nosso caso levamos a sério a nossa busca por performance. Mas no máximo ficaremos desiludidos e mal humorados quando desempenhamos mal. Não passa desse limite visto que não somos profissionais. O nosso envolvimento com o kartismo é essencialmente lúdico. Portanto a questão da sociabilidade está presente de forma clara na nossa atividade. Eu por exemplo tento contribuir com os relatos das nossas corridas no meu blog, e algumas fotos.

Quando vou ao kartódromo, o que espero é a minha hora de fazer o que mais gosto. E quero valorizar isso porque hoje nem treinar eu consigo mais. E ainda por cima crio algum desconforto para um amigo meu que há mêses me dá caronas ida e volta, pois moramos na mesma região, mas não próximos um do outro.

Mesmo com impecilhos eu consigo me manter motivado e consigo melhorar a minha performance sempre um pouco mais. E nesse panorama eu acho completamente inadequado, e muito desanimador para mim, a atitude de pista de alguns que se julgam pilôtos mas se portam como motoboys do kartismo amador, de ganharem posições em corridas decisivas na base da ignorancia.

Há uma diferença considerável entre ser agressivo e ignorante. O Carlos Gianini é a minha prova disso. No final de 2009 lhe fiz uma ultrapassagem bem agressiva na ultima volta e ganhei a sua posição. No box ele não deixou de lembrar a agressividade da manobra e nem deixou de me cumprimentar por ela própria.

Na última etapa eu pensava apenas em pontos que me garantissem na Master. Valem as regras e ponto final. Cabe a mim conquistar os ditos pontos. E como se trata de momento decisivo eu fui para a pista com o pensamento de sempre de fazer a minha corrida sem deixar de considerar que outros estão ali fazendo o mesmo pelas mesmas razões. Iria disputar posições de forma mais apertada se fosse o caso, mas nunca tirando alguem da disputa porque aí deixa de ser disputa e eu estaria prejudicando alguem, o seu esforço naquele momento com objetivo definido.

E infelizmente não foi o que eu encontrei na pista. O meu kart cortava na reta e por isso eu não conseguia encostar em ninguem naquele trecho. Mas a partir da entrada no miolo, as saídas de traseira e a retomada me davam alguma vantagem. Mesmo assim fiquei por várias voltas atrás de dois pilôtos porque não queria ultrapassar de forma desleal. E não apenas fui ultrapassado assim como também levei uma sequencia de batidas na traseira e na lateral, até que numa dessas me tiraram da disputa.

Literalmente me impediram de disputar de maneira limpa os pontos que eu queria para garantir a minha posição na Master. E pior que isso, não houve punição. Ao contrário, o Mogar Dreon que é seguramente o nosso melhor bota, tomou uma punição numa batida onde eu estava na frente, porque êle levou uma por trás e não teve como evitar as consequencias.

Enfim, quero dizer que há uma parte do grupo que esteve presente nessa última etapa que não se preocupa em levar em consideração a conduta dos que estão à frente e assim se acham no direito de simplesmente prosseguir até que te atinjam sem deixar chance para que voce permaneça. Significa exluir voce da disputa. E o kartódromo ainda dá a punição para o cara errado. Acho tudo isso o fim do mundo porque mina a motivação que temos no momento em que somos atingidos com evidente deslealdade.

Posso afirmar com segurança, e há quem comprove, que tenho argumentos suficientes para dizer que caras assim não seriam aceitos em provas como o antigo Endurance Noturno. Participei de alguns e sei bem como é. Nada de frescuras ou pé de breque, é acelerador tempo integral. Mas há um padrão de conduta. E na ultima prova no nosso campeoanto eu não vi isso. Vi a conquista de posições com base na anulação dos meios do concorrente, o que não tem paralelo com a idéia de supremacia de capacidades. Inclusive um desses me empurrou para fora pelo simples fato de ter sido ultrapassado por mim, lado a lado sem nos tocarmos.

Afinal, na prática fui impedido de disputar os pontos que me faltavam. E o resultado agora está definido. Como disse, isso equivale à conduta de um motoboy do indoor. Lamentável, lamentável. O meu perfil de pilotagem está sim acima disso. E tem gente que pode comprovar isso há tempo.
Como eu deveria chamar um cara desses? Kartboy?

3 comentários:

Bruno Escarim disse...

Muito bom. Sincero e correto.

Esse mundo do kart amador está repleto de kartboys!

Mogar Filho disse...

Olá Clemente,

Espero que estas situações desta corrida tenham sido exceção e não a nova regra.

Quanto a dizer que sou o maior bota do grupo, este elogio é uma honra para mim, vindo de uma pessoa ligada ao automobilismo há tanto tempo, mas tem um pessoal guiando bem também.

Abraço.

Zé Clemente disse...

Mogar, isso vai se repetir porque é uma questão de visão da atividade. Quando eu vou pra pista, vou com a intenção de fazer o que mais possa exigir de mim mesmo, ou seja, acelerar o maximo possivel. Mas eu prevejo um espaço para as atitudes de precaução pois o que eu quero é competir acelerando e não ser excluído da competição. Como eu te disse na padaria, aceito andar o campeonato inteiro atrás de voce, mas quero disputar isso, na performance.