Escrevo no último domingo e os eventos aqui citados eu não acompanhei e nem me interessei. No canal Youtube da Red Bull foi postado o vídeo aqui compartilhado no final do post, em que o ator Tom Cruise pilotou o Red Bull F1 do ano passado. Seu instrutor foi David Coulthard, hoje aposentado da F1.
Fez-se algum alarde da façanha que óbviamente se trata de ação de marketing. Na transmissão de domingo da F1, Galvão Bueno anunciou matéria sobre Tom Cruise pilotando F1 a ser exibida naquele mesmo dia à noite na Globo.
Há alguns anos o tri-campeão Niki Lauda disse que até um macaco pilotaria um carro de F1 atual. Depois disso, com mais de 50 anos, com uma barriguinha bem desenvolvida, típica de austríacos amantes da cerveja, usando óculos e sem pilotar há uma década, entrou num carro de F1, não me lembro de qual equipe, e foi sentir de novo a sensação de andar no monoposto mais veloz do automobilismo. Se não me engano ele andou 12s mais lento que o tempo de pista para aquele carro.
Achei que andou demais para as condições dele. Êle mesmo resolveu parar de pilotar na McLaren quando teve um ano inexpressivo e viu que era a hora de pendurar as luvas e capacete. Aliás, ele disse precisamente isso outro dia sobre Schumacher. Estamos falando aqui de alguém que além de ter cumprido todas as etapas de aprendizado que levam à F1, conseguiu ganhar campeonatos e por muito pouco mesmo não perdeu a vida num acidente horrível que lhe deixou marcas no rosto para sempre. Portanto, alguém que pode ser considerado referencia na matéria.
Tom Cruise tem 49 anos, é ator profissional, já pilotou carros de turismo ou protótipos como amador, mas jamais seguiu a trajetória do profissional que chega até a F1. É só ler a montanha de relatos que há na internet e qualquer um vai entender que é um caminho bem difícil do ponto de vista da capacitação. E só logra êxito quem começa cêdo e não tarde.
Tom Cruise não é um macaco mas não pilotou um F1. Não um com as mesmas características do carro que vai para as pistas de competição. Além disso, no vídeo é possível ver duas coisas muito significativas. O que pode ser chamado de área de escape naquela pista é um imenso descampado sem obstáculos imediatos ao lado da pista.
Numa rodada no final do vídeo Tom Cruise consegue retornar. No entanto já vimos inúmeras vêzes carros de F1 ficarem entalados em algum lugar fora da pista porque estavam com o assoalho encostado no chão devido à altura incrivelmente pequena no fundo. É, por exemplo, o que às vezes chega a impedir um carro de F1 de andar em aguaceiros pois o espaço livre embaixo chega a ser tomado pela água conforme o volume da poça.
É claro que esse carro da Red Bull teve um ajuste que permitisse que uma pessoa não condicionada a um carro tão arisco quanto o F1, conseguisse guiá-lo. A altura, que permitiu que êle voltasse à pista vindo da terra, é apenas um dos ítens. Há outras coisas como a curva de potencia, a regulagem eletronica do diferencial, a pressão da suspensão, dos pneus e sabe-se lá mais o que. Por falar em pneus logo, no início do vídeo pode-se ver que os pneus, slicks, já tinham rodado, óbviamente nas mãos de Coulthard, que também deixou o carro com os ajustes do volante mais convenientes para um leigo da categoria. E também a recomendação de não mexer em nenhum deles.
Mais uma coisa que somente um vídeo mais longo poderia mostrar, é o traçado no qual ele fez, se não me engano, 22 voltas. Sim, ele sabe pilotar mas andar no traçado ideal é outra estória e estamos falando aqui de um carro de 800 hp´s que ganha velocidade muito rápido.
Apenas para lembrar, fiz uma conta no sábado conversando com o Tchê, lendário preparador de karts espanhol. Com o meu peso atual, sentado em um kart de competição o peso total deve estar em torno de 160 kg´s. Andei no ano passado em Interlagos com um kart do Tchê em que ele estava testando um desenvolvimento seu em motor 2 tempos.
A potencia ele estima (mas não mediu) em 30 HP´s. Isso dá uma relação peso potencia de pouco mais de 0,5 HP por quilo. Nessas condições e com um motor que sobe muito rápido de giro, em certo momento enfiei o pé de uma vez em linha reta e o kart chicoteou a traseira. Também senti a pressão nas costas. Seria fácil ter rodado ali nessa hora, e estamos falando de um carrinho que chega a no máximo 125 km/h no final da reta do kartodromo de Interlagos.
Um F1 deve ter um peso mínimo de 640 kg´s e tem potencia proxima de 800 HP´s. Isso dá 1,25 HP´s por kg. Nem posso imaginar a sensação de acelerar uma coisa dessas. Mas quem procurar na internet vai achar um vídeo de um jornalista europeu que foi fazer matéria sobre a sensação de acelerar carro desses. E quando finalmente conseguiu sair do box sem apagar o motor teve um trabalho fenomenal para se manter em linha reta e mais ainda para frear o carro, quando inevitávelmente rodava.
Enfim, caso Tom Cruise seja um macaco disfarçado de ator americano, deve ser um símio hiper dotado pois conseguiu dar 22 voltas num carro que até Niki Lauda teve uma imensa dificuldade de guiar. O grande atrativo que eu vi na F1 foi ver caras andarem num carro que jamais me deixariam sentar, em condições que eu jamais conseguiria guiar. E aí eu me pergunto se a F1 de hoje realmente não é mais a mesma. Fiquei com a estranha sensação de que não é.
( imagem: Canal Youtube da Red Bull )
( imagem: Canal Youtube da Red Bull )
2 comentários:
Oi Zé! Você falou muito bem falado. E eu aqui duvido que quem estava dentro do carro nas cenas que foram mostradas ao público era mesmo o Tom Cruise. Um abração.
Paulão
Paulo, acho que foi mesmo o Cruise no volante. Mas o Lauda passeou pilotou depois de aposentado um carro de competição. O que o Cruise fez não foi exatamente isso e o carro não é mesmo o F1 que vemos nas pistas. Diria que é o mesmo carro mas com uma performance muito abaixo do normal
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