O que segue está fora dos propósitos do blog mas me tomou a atenção de tal forma que resolvi publicar.
"A fase que vai de 1930 até o fim da Segunda Guerra assistiu ao começo da grande mudança social, econômica e cultural do Brasil, com o declínio das velhas oligarquias de base agrária e o ascenso da burguesia industrial, que passa lentamente aos controles do mando, ao mesmo tempo que as classes médias crescem em volume e participação social, e o operariado entra na vida política em larga escala. Culturalmente essa fase é rica e diversificada, inclusive com o estabelecimento das universidades, pois até então o Brasil só possuía escolas superiores isoladas de finalidade profissional imediata (Direito, Medicina, Engenharia, Farmácia, Agronomia, etc.), algumas delas agrupadas sob a designação puramente nominal de universidade. Esta só aparece realmente em 1934 com a de São Paulo, na qual pela primeira vez o ensino e a investigação foram concebidos como unidade orgânica, a partir da pesquisa desinteressada, tanto no domínio das ciências quanto no das humanidades. Foi só então que se estabeleceu no Brasil o ensino superior das Letras, da História, das Ciências Sociais; e isso repercutiu de modo positivo na história e na crítica literária."
Parágrafo extraído de: Iniciação à literatura Brasileira - Um resumo para principiantes
Antonio Cândido, 1996 - USP
Na semana passada fui visitar um amigo, mecânico há talvez 50 anos sobre quem vou colocar alguns posts brevemente, e me chamou a atenção uma característica sua já conhecida por mim há muitos anos. Fala com naturalidade empregrando um jargão sem sofisticação compondo frases que expressam idéias concretas e bem formadas, e pasmem, com uma incorrigível concordância. Tal falar nos dias de hoje chega a soar estranho tal é a forma empregada pelas pessôas ao se comunicarem, que vêz por outra, dependendo de quem seja o interlocutor, pode se assemelhar a uma lógica selvagem das cavernas.
E qual é o problema um mecânico falar corretamente como o meu amigo de longa data? O problema é que é sabido que a parcela mais humilde da população nutria no passado e hoje ainda nutre um desinterêsse pelas coisas que representam o nosso enriquecimento intelectual. Os apêlos do consumismo e dos comportamentos indolentes, seja no plano intelectual ou no corporal, estão levando a maior parte da população a um pragmatismo óbvio que resulta única e tão sómente em sobrevida. Situação em que a qualidade de vida ficou resumida na fatura de cartão de crédito paga ao final do mês.
As nossas relações sociais de hoje são qualificadas por acessórios que têm custo financeiro e não pela nossa capacidade e riqueza de idéias e comunicação. No texto acima me surpreendeu o fato de que até a década de 1930 o Brasil não possuía universidades, no seu senso mais concreto, tendo sido a USP a primeira a ter êsse qualificador. Quando me surpreendo com isso estou assumindo que também, como muitos, eu não conheço muito o meu país. Mas me sinto agora mais satisfeito por ter sido informado de uma questão que explica porque a educação é um problema grave no Brasil e tem piorado nos últimos anos do ponto de vista qualitativo. Entendo melhor porque o nosso país deixou de ser sub-desenvolvido e passou a estar em desenvolvimento, o que na prática não nos confere nenhum avanço magistral, embora não seja verdadeiramente um retrocesso.
Finalmente entendo também porque os nossos políticos falam sem parar de educação nas suas campanhas. É porque nós não temos histórico nosso, não temos referências próprias. De acordo com o texto acima ainda não tem 100 anos que a estrutura educacional do Brasil está constituída por tôdos os níveis possíveis até o mais alto. O valôr da educação no Brasil ainda é não sabido. É um território a desbravar e portanto um belo tema de campanha.
Assim como demonstrei não conhecer a fundo a nossa história e a nossa literatura, espero que a vida me presenteie com tôdas as possibilidades existenciais que possam se tornar o mecanismo necessário para a aquisição de outros saberes que dariam um lustro na minha pobre vida intelectual.
"A fase que vai de 1930 até o fim da Segunda Guerra assistiu ao começo da grande mudança social, econômica e cultural do Brasil, com o declínio das velhas oligarquias de base agrária e o ascenso da burguesia industrial, que passa lentamente aos controles do mando, ao mesmo tempo que as classes médias crescem em volume e participação social, e o operariado entra na vida política em larga escala. Culturalmente essa fase é rica e diversificada, inclusive com o estabelecimento das universidades, pois até então o Brasil só possuía escolas superiores isoladas de finalidade profissional imediata (Direito, Medicina, Engenharia, Farmácia, Agronomia, etc.), algumas delas agrupadas sob a designação puramente nominal de universidade. Esta só aparece realmente em 1934 com a de São Paulo, na qual pela primeira vez o ensino e a investigação foram concebidos como unidade orgânica, a partir da pesquisa desinteressada, tanto no domínio das ciências quanto no das humanidades. Foi só então que se estabeleceu no Brasil o ensino superior das Letras, da História, das Ciências Sociais; e isso repercutiu de modo positivo na história e na crítica literária."
Parágrafo extraído de: Iniciação à literatura Brasileira - Um resumo para principiantes
Antonio Cândido, 1996 - USP
Na semana passada fui visitar um amigo, mecânico há talvez 50 anos sobre quem vou colocar alguns posts brevemente, e me chamou a atenção uma característica sua já conhecida por mim há muitos anos. Fala com naturalidade empregrando um jargão sem sofisticação compondo frases que expressam idéias concretas e bem formadas, e pasmem, com uma incorrigível concordância. Tal falar nos dias de hoje chega a soar estranho tal é a forma empregada pelas pessôas ao se comunicarem, que vêz por outra, dependendo de quem seja o interlocutor, pode se assemelhar a uma lógica selvagem das cavernas.
E qual é o problema um mecânico falar corretamente como o meu amigo de longa data? O problema é que é sabido que a parcela mais humilde da população nutria no passado e hoje ainda nutre um desinterêsse pelas coisas que representam o nosso enriquecimento intelectual. Os apêlos do consumismo e dos comportamentos indolentes, seja no plano intelectual ou no corporal, estão levando a maior parte da população a um pragmatismo óbvio que resulta única e tão sómente em sobrevida. Situação em que a qualidade de vida ficou resumida na fatura de cartão de crédito paga ao final do mês.
As nossas relações sociais de hoje são qualificadas por acessórios que têm custo financeiro e não pela nossa capacidade e riqueza de idéias e comunicação. No texto acima me surpreendeu o fato de que até a década de 1930 o Brasil não possuía universidades, no seu senso mais concreto, tendo sido a USP a primeira a ter êsse qualificador. Quando me surpreendo com isso estou assumindo que também, como muitos, eu não conheço muito o meu país. Mas me sinto agora mais satisfeito por ter sido informado de uma questão que explica porque a educação é um problema grave no Brasil e tem piorado nos últimos anos do ponto de vista qualitativo. Entendo melhor porque o nosso país deixou de ser sub-desenvolvido e passou a estar em desenvolvimento, o que na prática não nos confere nenhum avanço magistral, embora não seja verdadeiramente um retrocesso.
Finalmente entendo também porque os nossos políticos falam sem parar de educação nas suas campanhas. É porque nós não temos histórico nosso, não temos referências próprias. De acordo com o texto acima ainda não tem 100 anos que a estrutura educacional do Brasil está constituída por tôdos os níveis possíveis até o mais alto. O valôr da educação no Brasil ainda é não sabido. É um território a desbravar e portanto um belo tema de campanha.
Assim como demonstrei não conhecer a fundo a nossa história e a nossa literatura, espero que a vida me presenteie com tôdas as possibilidades existenciais que possam se tornar o mecanismo necessário para a aquisição de outros saberes que dariam um lustro na minha pobre vida intelectual.
Um comentário:
É isso, Zé! msravilha de comentário, um pouco diferente do que vc costuma, mas vai agradar a muitos...possivelmente a todos os que o seguem.
Bj
Anagon
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