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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Luiz Manzini - Mãos na graxa. (2)


Numa época de poucas vias de ligação entre um bairro e outro, Luiz Manzini viu um Santo Amaro e uma Capela do Socorro que muitos não lembram mais. E foi nessa condição que têve pela primeira vez contato com um carro de corridas. Os ingleses que aqui chegaram para a construção da Billings, foram as pessoas que acabaram dando uma característica singular ao bairro. João Batista, o seu pai, teve oficina na Alameda Santo Amaro, e depois mudou-se para a Avenida De Pinedo em frente a um posto de gasolina.

- Era engraçado ir lá com o meu pai, mais ou menos nos meus oito anos. A ponte era de madeira, ao lado de onde há a passagem dos tubos da Sabesp. A ponte ficava quase no nível do rio. Quando enchia, atingia a ponte. Você atravessava a ponte e parecia que estava em outra cidade, parecia que estava na Inglaterra. Tinham muitos casarões característicos.

Na avenida De Pinedo havia um posto de gasolina que era muito conhecido na região como o posto Kenneth. Os avós do proprietário, Kenneth Evans, vieram para o Brasil durante a construção da represa. Luiz lembra que êle foi um dos primeiros santamarenses a possuir terreno em Peruíbe, que como êle mesmo diz é uma cidade cheia de propriedades de santamarenses. Brinca dizendo que o destino do santamarense caipira é morrer em Peruíbe ou Embú-Guaçú.

Nesse posto de gasolina Luiz viu pela primeira vez um carro de corrida. Estava indo para a oficina do pai e quando viu o carro, aquilo chamou a atenção e foi ver de perto. Naquela época quem ía ao autódromo vindo do centro, passava pela avenida Santo Amaro, Adolfo Pinheiro, ponte do Socorro e avenida De Pinedo onde estava o posto e a oficina de seu pai. Era o caminho natural para o autódromo que foi seguido por muito campeão de automobilismo. Muitos pilotos paravam para abastecer nesse posto.

- Foi a época em que eu convivi com o meu pai. Êle faleceu quando eu tinha 18 anos, de cancer de pulmão. Tive pouco tempo de convivencia com êle na mecânica. Tinha 47 anos quando faleceu. Havia muita amizade, o meu pai era amigo dos filhos. Coisa de família de italiano.

- É engraçado, a minha nora é nordestina e eu vejo que embora a cultura seja diferente, há muita amizade em família. É diferente da origem européia mas é muito voltada para a família. O que eu gosto é que os meus filhos ainda manteem isso. Eu e a minha mulher conseguimos passar. Quando eu digo que sou um caipira de Santo Amaro, eu acho legal porque conservo ainda algumas características.


Quando o pai de Luiz faleceu, êle continuou com o tio por mais dois anos e construiu na avenida João Dias. A nova oficina ficava próximo da bifurcação da rua Anchieta com a avenida João Dias. Mais uma vez o padrão tradicional de oficinas de bairro perdurou. A casa da mãe ficava na rua Anchieta em frente ao 11o. DP. Do outro lado do terreno, com frente para a João Dias, estava a oficina. Ao lado havia duas figuras muito conhecidas em Santo Amaro. A Casa Maluf, loja de peças de um turco chamado Augusto Maluf, e ali perto a casa de Júlio Guerra, que Luiz chama de pai do Borba Gato pois foi Júlio o artista plástico responsável pela construção da conhecida estátua. Júlio e a mãe de Luiz Manzini foram vizinhos na infancia e brincavam nas ruas do bairro.

Nessa fase Luiz ficou muito conhecido na região como um especialista de Gordinis. Também tinha feito curso de câmbio automático na GM. Mudou-se da Capela do Socorro para a João Dias em 1960 e depois alugou um galpão de um espanhol na rua ao lado da Biblioteca Kennedy.


O blog não sabe informar o nome atual dessa biblioteca porque mais uma vez mudaram o nome de alguma coisa na cidade e as antigas referências ainda estão frescas na memória. Justamente numa época em que os resgates históricos são uma pauta.

Nessa época as oficinas eram identificadas de outra forma.

- O nome da oficina era o nome do dono. Oficina do Manzini. Eu cheguei a pintar um dístico da Willys porque trabalhava só com Gordini. Na época ninguém gostava de trabalhar com Gordini. Eu gostava do carro por conta da tecnologia que era avançada para a época. O motor tinha 850 cilindradas e tinha 40 cavalos, enquanto que o Volks era 1300 e tinha 36.

Nessa época existiam nos mauais do proprietário, informações técnicas de manutenção e ajustes. Porém os manuais técnicos de manutenção das montadoras eram difíceis de conseguir.

- Eu consegui manuais da Willys, do Gordini, e depois do Corcel também, atravéz do Galli.

Daí vem a minha ligação com Luiz Manzini. Essa pessôa da Willys era amigo do meu pai e se conheceram no dia em que o meu pai comprou o seu primeiro carro - uma Romi-Isetta. O amigo dele, Alexandrino Galli, era do controle de qualidade da Willys Overland do Brasil.

Nessa época existiam também livros especializados em mecânica de automóveis, mas Luiz pouco os utilizava. Os manuais do proprietário eram bem completos e tinham informações sobre todos os ajustes do carro, incluindo os de supensão, freios, fárois, etc.

Em oficinas mecânicas sempre há algum momento cômico. Entra na conversa um amigo de Luiz que diz ter em casa uma série de revistas Mecânica Popular da década de 50. Em todas elas as figuras foram recortadas, o que não lhes confere muito valor.

Com o retorno do espanhol, dono do prédio onde ficava a oficina, Luiz se mudou para a rua Missionários, ao lado do supermercado Grande Giro, onde hoje há a catedral da Igreja Universal. Me lembro bem desse período, quando o foco mudou um pouco. Luiz trabalhou muitos anos com a mecânica Renault, ao mesmo tempo em que iam surgindo outros modelos com novos motores e êle precisou se adaptar. Mas ainda era muito procurado pelos saudosistas do Gordini, assim como dos proprietários do Corcel e Escort que na época estavam em linha de produção.

Em qualquer oficina que se preze nos dias de hoje há um elevador. Mas naqueles tempos longínquos o recurso era outro. Utilizava-se uma talha pendurada em um cavalete de madeira. Mas às vezes o braço era suficiente, como um dia em que na sua oficina eu o vi tirar o motor de um Opala fazendo uso apenas de um tubo de aço e uma corrente. Para ajudá-lo na outra ponta estava um primo que o seguiu por 20 anos - o Magrão, como era conhecido por todos, recentemente falecido. Mas além disso as oficinas antigas faziam uso corrente de um recurso que atualmente só se vê em lojas de escapamentos - a valeta. Lugar onde se davam cabeçadas em pontas de pára-choques ou escapamentos na hora de sair.


2 comentários:

Centro Imobiliário de Peruíbe disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Sergio Leonardo Jorge disse...

O Luizinho é meu primo, ele faz a manutenção das duas berlinettes que tenho, inclusive uma é de corrida e pertenceu ao piloto Bird Clemente, de quem comprei em 1995, além de também cuidar do meu carro de uso diário. Muito legal terem reconhecido a Familia Manzini, após tantos anos, na pessoa do primo Luizinho. Parabéns.