Interlagos em um outro tempo. Uma ´voltinha´ pela pista com a família.
- A primeira vez eu fui com o meu pai e o meu tio, e andamos em Interlagos. Passeamos do jeito que o meu tio gostava de passear. Foi em 1952. A arquibancada era de terra. Depois quando eu comecei a frequantar sózinho já tinha a ´ponte da Pirelli´. O box era lá na curva do café. As curvas eram bem inclinadas, um bacião. Assistíamos corrida da curva dois, lá perto da Jangadeiro, no barranco. Fomos com o Chevrolet 1937 do meu pai. Era um dia de semana e não tinha ninguém no autódromo. Simplesmente entramos e andamos.
Mais Manzinis em Santo Amaro. Um despachante muito procurado na região.
- Esse meu tio era pai do Betinho Cavalo que era despachante com escritório na avenida Adolfo Pinheiro. O meu primo era o Adalberto Manzini do Despachante Primus. Quando éramos crianças, ir à oficina era um castigo para êle, mas para mim o castigo era não ir.
O primeiro carro ´envenenado´.
- A primeira vez foi para uma corrida de rua em Piracicaba. Foi um Gordini para o Josil. Eu tinha um Dauphine e fui com a minha família. Depois fizemos outra corrida que foi a inauguração do autódromo de Curitiba. O autódromo de Interlagos estava fechado. Foi a primeira reforma.
- A preparação era simles. Era a Turismo Classe A. Ía para a corrida com o carro na estrada. Na volta desfazia tudo e virava carro de rua de novo. O Josil era vendedor da Compania Santo Amaro e provavelmente acabou perdendo o emprego por causa disso.
A preparação, às vezes era uma mera cópia. Em competição não se pode perder tempo.
- Acho que foi o fato de eu ser um cara muito livre, que queria inventar, ou talvez pela falta de organização, que eu acabei não me firmando como preparador. Eu peguei muito cara em fim de carreira que já tinha gasto muito dinheiro. Fazíamos uma ou duas corridas e o piloto ficava contente e dizia que no ano seguinte ia ter patrocínio. No fim eu trabalhei com preparação muito mais por recreação.
- Eu tinha interesse em ser preparador mas queria manter a minha oficina. Preparação era um negócio bom, gostoso. Grana naquela época era um negócio complicado. Hoje está muito caro e sem grana o cara nem se mete. Eu ganhava mais como mecanico do que como preparador.
- Eu não gostava de copiar. Uma coisa que era muito comum era um copiar o outro. Eu queria fazer uma coisa com as minhas próprias conclusões. Com isso voce perde tempo e em competição não se pode perder tempo. Além disso se não tem recurso para treinar não vai conseguir tirar resultado.
Inauguração de Curitiba. Uma aventura com carros de corrida nas estradas de um país com muito menos recursos do que hoje. E menos dinheiro também.
- Em Curitiba foram o Josil com um Gordini beje e o João com um azul. Essa estória de Curitiba dá um livro. Passamos até fome na estrada. O Josil terminou em quarto ou quinto na categoria, após 4 horas de corrida, depois de ter andado daqui até lá, fora os rachas de estrada. Um carro pintado, os outros querem saber se anda.
- Eu fui na sexta-feira com a minha mulher e a minha mãe. Fui com o meu Gordini que tinha motor 1000. Foi o pior Gordini que eu tive. Eu era fanático de Gordini, mas esse andava igual ao 850. Eu voltei no domingo com a família. Na segunda-feira êles voltaram e queimou a junta de cabeçote de um lá na serra de Curitiba. E um pistão do Josil furou na serra de Juquitiba.
- Fomos lá socorrer o de Juquitiba. Quando eu viajo levo 2 litros de óleo e água. E naquela época os postos de gasolina ficavam fechados. Cheguei lá e desliguei o fio de vela e as varetas de válvula. Tínhamos pouco dinheiro no bolso. Fomos em cinco no Gordini e resolvemos ir à serra de Curitiba buscar o outro carro. Chegou um momento em que acabou o óleo e o motor travou. No dia seguinte compramos óleo, e eu abri o cárter. Tirei a biela, amarrei as bronzinas com arame para tampar a passagem de óleo, tirei as varetas das válvulas e o fio de vela.
- Chegamos no carro do João e tinha queimado a junta de cabeçote. Deixamos lá o Magrão e o João e fomos para Curitiba. Quando entrei na cidade quebrou o cabo da embreagem. Fomos em uma oficina e arrumamos a biela e a junta de cabeçote, e deixei um cabo de vela desligado. Voltamos assim com os dois carros falhando. Levamos 3 dias entre ida e volta. Quando chegamos em São Paulo já estavam nos procurando até no necrotério. Na chegada aqui, travou o motor. Dei um pontapé na porta, de raiva.
Depois da oficina da Missionários, Luiz foi para a oficina do amigo ´Segundinho´ (José de Freitas) que correu na Speed. O espaço foi oferecido pelo amigo por mais de 6 meses. Luiz alugou o local onde trabalha hoje e quando o proprietário colocou à venda êle comprou. No terreno construiu a casa onde mora. Com bom humor, diz não saber onde começa a casa e acaba a oficina. No fim de tudo, após décadas de atividade de uma gangue de mecânicos, como ele mesmo define a família, o formato tradicional de casa ligada à oficina é o que ainda prevalece.
No próximo e último post, fotos de objetos da oficina que alguns não conhecem hoje e a descrição de um genuíno Frankenstein da mecânica. Lembranças da família.
- A primeira vez eu fui com o meu pai e o meu tio, e andamos em Interlagos. Passeamos do jeito que o meu tio gostava de passear. Foi em 1952. A arquibancada era de terra. Depois quando eu comecei a frequantar sózinho já tinha a ´ponte da Pirelli´. O box era lá na curva do café. As curvas eram bem inclinadas, um bacião. Assistíamos corrida da curva dois, lá perto da Jangadeiro, no barranco. Fomos com o Chevrolet 1937 do meu pai. Era um dia de semana e não tinha ninguém no autódromo. Simplesmente entramos e andamos.
Mais Manzinis em Santo Amaro. Um despachante muito procurado na região.
- Esse meu tio era pai do Betinho Cavalo que era despachante com escritório na avenida Adolfo Pinheiro. O meu primo era o Adalberto Manzini do Despachante Primus. Quando éramos crianças, ir à oficina era um castigo para êle, mas para mim o castigo era não ir.
O primeiro carro ´envenenado´.
- A primeira vez foi para uma corrida de rua em Piracicaba. Foi um Gordini para o Josil. Eu tinha um Dauphine e fui com a minha família. Depois fizemos outra corrida que foi a inauguração do autódromo de Curitiba. O autódromo de Interlagos estava fechado. Foi a primeira reforma.
- A preparação era simles. Era a Turismo Classe A. Ía para a corrida com o carro na estrada. Na volta desfazia tudo e virava carro de rua de novo. O Josil era vendedor da Compania Santo Amaro e provavelmente acabou perdendo o emprego por causa disso.
A preparação, às vezes era uma mera cópia. Em competição não se pode perder tempo.
- Acho que foi o fato de eu ser um cara muito livre, que queria inventar, ou talvez pela falta de organização, que eu acabei não me firmando como preparador. Eu peguei muito cara em fim de carreira que já tinha gasto muito dinheiro. Fazíamos uma ou duas corridas e o piloto ficava contente e dizia que no ano seguinte ia ter patrocínio. No fim eu trabalhei com preparação muito mais por recreação.
- Eu tinha interesse em ser preparador mas queria manter a minha oficina. Preparação era um negócio bom, gostoso. Grana naquela época era um negócio complicado. Hoje está muito caro e sem grana o cara nem se mete. Eu ganhava mais como mecanico do que como preparador.
- Eu não gostava de copiar. Uma coisa que era muito comum era um copiar o outro. Eu queria fazer uma coisa com as minhas próprias conclusões. Com isso voce perde tempo e em competição não se pode perder tempo. Além disso se não tem recurso para treinar não vai conseguir tirar resultado.
Inauguração de Curitiba. Uma aventura com carros de corrida nas estradas de um país com muito menos recursos do que hoje. E menos dinheiro também.
- Em Curitiba foram o Josil com um Gordini beje e o João com um azul. Essa estória de Curitiba dá um livro. Passamos até fome na estrada. O Josil terminou em quarto ou quinto na categoria, após 4 horas de corrida, depois de ter andado daqui até lá, fora os rachas de estrada. Um carro pintado, os outros querem saber se anda.
- Eu fui na sexta-feira com a minha mulher e a minha mãe. Fui com o meu Gordini que tinha motor 1000. Foi o pior Gordini que eu tive. Eu era fanático de Gordini, mas esse andava igual ao 850. Eu voltei no domingo com a família. Na segunda-feira êles voltaram e queimou a junta de cabeçote de um lá na serra de Curitiba. E um pistão do Josil furou na serra de Juquitiba.
- Fomos lá socorrer o de Juquitiba. Quando eu viajo levo 2 litros de óleo e água. E naquela época os postos de gasolina ficavam fechados. Cheguei lá e desliguei o fio de vela e as varetas de válvula. Tínhamos pouco dinheiro no bolso. Fomos em cinco no Gordini e resolvemos ir à serra de Curitiba buscar o outro carro. Chegou um momento em que acabou o óleo e o motor travou. No dia seguinte compramos óleo, e eu abri o cárter. Tirei a biela, amarrei as bronzinas com arame para tampar a passagem de óleo, tirei as varetas das válvulas e o fio de vela.
- Chegamos no carro do João e tinha queimado a junta de cabeçote. Deixamos lá o Magrão e o João e fomos para Curitiba. Quando entrei na cidade quebrou o cabo da embreagem. Fomos em uma oficina e arrumamos a biela e a junta de cabeçote, e deixei um cabo de vela desligado. Voltamos assim com os dois carros falhando. Levamos 3 dias entre ida e volta. Quando chegamos em São Paulo já estavam nos procurando até no necrotério. Na chegada aqui, travou o motor. Dei um pontapé na porta, de raiva.
Depois da oficina da Missionários, Luiz foi para a oficina do amigo ´Segundinho´ (José de Freitas) que correu na Speed. O espaço foi oferecido pelo amigo por mais de 6 meses. Luiz alugou o local onde trabalha hoje e quando o proprietário colocou à venda êle comprou. No terreno construiu a casa onde mora. Com bom humor, diz não saber onde começa a casa e acaba a oficina. No fim de tudo, após décadas de atividade de uma gangue de mecânicos, como ele mesmo define a família, o formato tradicional de casa ligada à oficina é o que ainda prevalece.
No próximo e último post, fotos de objetos da oficina que alguns não conhecem hoje e a descrição de um genuíno Frankenstein da mecânica. Lembranças da família.
Um comentário:
Zé, como você sabe, o Josil é carioca, mudou-se de malas e bagagens para Sampa. Acho que fez um grande negócio, visto que as dificuldades aqui no RJ pra quem gosta de Automobilismo são muito grandes. Eu gosto muito do Josil, um cara amigo, leal e companheiro ( no bom sentido, rs). Eu pedi ao Mestre Joca que me ajudasse a encontra-lo para matar as saudades.
Ele me convidou para dirigir esse Fusca da foto, e infelizmente não pude me mudar pra Sampa, pois estava na faculdade. O mecânico dele, na época, era o Giba, que também não vi mais. A ultima vez que ví o Josil ele chefiava a equipe do Peter Schutzwenk (assim que se escreve?). Meu e-mail é:
pedrohocarvalho@yahoo.com.br
Se consseguir contato com ele por favor me avise.
Um abraço.
Pedro Henrique "Baleiro"
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