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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Nossos melhores pilotos - Emerson Fittipaldi.

O sobrenome Fittipaldi perambula nas minhas lembranças desde a minha infância, e é natural que eu sinta uma admiração à parte.

Emerson Fittipaldi é o mais completo dos tres na minha opinião. Mas quando julgo assim não o faço do ponto de vista das suas habilidades, isoladamente falando.

Após um bem sucedido início no automobilismo brasileiro, Emerson entendeu que as suas chances estavam fora do país. No Brasil as fábricas de automóveis não se interessavam mais pelas competições porque tinham alcançado o objetivo maior, que era a exposição das suas marcas. O profissionalismo estava lá do outro lado do oceano e aqui a previsão era que restassem apenas os garagistas de plantão.

Foi para a Inglaterra com 22 anos, sozinho e com muito pouco dinheiro. Conseguiu comprar um chassi Lotus F-Ford e era obrigado a ser o mecanico do seu proprio carro por não ter verba para contratar um. Isso lhe deu a oportunidade de se familiarizar com os métodos europeus. Após 14 meses na Inglaterra fez o seu primeiro teste com um F-1 na Lotus. Até então havia pilotado chassis Lotus na F-Ford, F3 e F2.  Justamente o genial dono da Lotus pensou em inscrever um terceiro carro no campeonato e Emerson foi escolhido para pilotar o 49C, projeto com o qual Jim Clark fora campeão. Trágicamente, encontrou caminho livre na equipe após a morte do seu companheiro Rindt e a desistencia de John Miles no mesmo dia. Em 1972 ganhou o seu primeiro campeonato por antecipação, vencendo Jackie Stewart. Em 73 perdeu para Stewart e aqui no Brasil já diziam que não era mais o mesmo. Na McLaren conseguiu a posição de piloto preferencial, pilotando um projeto muito semelhante ao Lotus 72D e ganhou mais um campeonato em 1974.

Em 1976, Emerson foi pilotar o Copersucar na equipe criada pelo seu irmão Wilson. A McLaren foi surpreendida com a decisão do campeão de deixar a equipe e contratou James Hunt, um piloto reconhecidamente playboy e notívago. Pilotando um carro muito competitivo e tendo sido beneficiado pelo acidente de Lauda em Nurburgring, Hunt foi o campeão de 1976. Nesse cenário não resta dúvida de que Emerson teria sido campeão novamente se tivesse permanecido na McLaren. A sua ausencia na Copersucar significaria ausencia de patrocínio e isso pesou na sua decisão.

Os maus resultados formaram a opinião de que Emerson já não era competitivo e não era um piloto arrojado. O público não estava muito interessado nas qualidades técnicas de pilotagem e queria ver um campeão. Emerson tinha muita preocupação com a segurança pois desde o seu ingresso na F-1 os pilotos estavam correndo o risco de morrer trágicamente. O motor dominante era o Cosworth DFV que alcançou mais de 500 hp´s. Os pneus diagonais de competição haviam sido substituídos pelos slicks e as asas tinham sido definitivamente adotadas por todas as equipes. Isso tudo fez a velocidade em curva aumentar muito, mas os chassis da época não eram suficientemente resistentes no caso de uma escapada em alta velocidade.

Portanto, a atitude de Emerson de terminar as corridas enquanto outros quebravam os seus carros, estava muito coerente com os padrões da época. Os pilotos desse período que abandonavam a F-1, o faziam na condição de sobreviventes.

Na Copersucar a sua carreira deteriorou, assim como as finanças e o casamento. A equipe quebrou e os bens foram arrestados pela justiça inglesa. Triste fim de uma carreira promissora.

Em 1984 ingressou na Cart nos Estados Unidos. Quando era piloto da McLaren, Emerson testou um F-Indy e não se sentiu à vontade. O carro andava muito mas não inspirava segurança. Emerson recomeçou nas pistas com 38 anos na mesma categoria onde o seu amigo Mario Andretti pilotava. Outro aprendizado e outro sucesso. A pilotagem era diferente, pois o carro tinha uma outra engenharia em função das provas de oval, onde passavam de 350 km/h.

Imediatamente começaram a dizer que era uma categoria de aposentados. No entanto, Emerson ganhou a sua primeira 500 Milhas de Indianapolis depois de uma disputa muito agressiva com Al unser Jr. na Curva 3 daquele autódromo. Acho que nesse dia Emerson obteve o que lhe faltava para ser qualificado como um piloto completo. Havia ganho 2 títulos na F-1, dois vice-campeonatos, e agora vencia a prova mais famosa do mundo, onde um sul-americano era um estranho no ninho. E isso pilotando um carro mais pesado, que usava outros pneus, outra aerodinamica e um motor de quase 1000 hp´s. No mesmo ano ganhou tambem o campeonato, fazendo valer a sua longa experiencia em circuitos mistos. Em 1993 venceu a sua segunda 500 de Indianapolis à frente de Nigel Mansell.

Abandonou a categoria aos 49 anos quando disputava a terceira posição com Greg Moore, o que resultou numa forte colisão no muro do oval de Michigan.

A carreira internacional de Emerson começou em 1969, parou em 1980 e em 1983 fez uma prova da IMSA em Miami, o que iniciou a sua permanencia nos Estados Unidos como piloto até 1996.

Ser campeão na F-1 e na Indy é uma distinção muito especial e não se consegue isso apenas com arrojo. É preciso experiencia e capacidade de adaptação.

Na F1 Emerson tem méritos indiscutíveis embora no passado muitos o tivessem criticado, especialmente no difícil período da Copersucar. Emerson chegou à Inglaterra tendo como referencia apenas pilotos de outra nacionalidade. Foi o primeiro brasileiro a aprender o que era a política da F1 e o que significava na prática a frieza daquele meio que nada perdoava. A logística e organização de pista era preocupante e claramente desconsiderava a segurança dos pilotos. Por exemplo, nessa época havia a etapa de Nurbrugring no antigo circuito de mais de 20 km onde o socorro médico jamais chegaria a tempo. Os acidentes de Tom Pryce e Roger Williamson mostraram a face mais negra do esporte e dos dirigentes. Ao contrário dos dias atuais, um piloto daquela época tinha uma chance muito menor de estar vivo ao fim da temporada. Dos nossos 3 campeões, Emerson foi o que mais presenciou acidentes, que incluiram também amigos seus e começando exatamente com o seu companheiro de equipe.

Dadas as circuntâncias da época não é exagero afirmar que o nosso primeiro campeão era um piloto corajoso.

Olhando-se para trás é possivel dizer que Emerson passou por muitas situações inesperadas e diversificadas, onde a correta leitura das condições era imprescindível para o sucesso. E queira ou não, o caminho que ele seguiu se tornou a referencia dos nossos outros pilotos.

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