Li e ouvi algumas opiniões sobre a proibição das trocas de kart durante o qualifying no Kart São Paulo. Penso que estamos misturando alhos com bugalhos. Um dos argumentos apresentados é que o critério é mais justo pois prevê a possibilidade do piloto ser comtemplado com um kart melhor na etapa seguinte.
Vou fazer algumas considerações antes de entrar diretamente na questão. Nós corremos com karts alugados e isso por si só já reflete uma exigência bem baixa do ponto de vista técnico. Não é possível se obter equilíbrio em uma corrida com karts alugados. Alguns poderiam argumentar que o kartódromo é o responsável pela equalização do equipamento e que por isso deveria deixar todos nas mesmas condições diáriamente. Claro, mas é preciso lembrar que antes de nós aconteceram normalmente 6 baterias, e isso basta para que mudem as condições.
Isso não é tão simples assim e se o kartódromo pretendesse seguir um conceito desses, o custo de uma bateria deveria ser muito mais alto. É fácil comparar as nossas condições com uma equipe de competição onde se encontram 4 ou 5 karts que são atendidos por 2 mecanicos e um chefe de equipe, enquanto que no caso dos alugados são alguns mecanicos com atribuições variadas no box para atenderem 40 karts. Não se trata de nível de qualificação técnica e sim de disponibilidade de pessoal. Os mecanicos do box atendem questões emergenciais pois efetivamente não há tempo de se buscar uma condição de performance constante em todos os karts. Fora essas considerações, tecnológicamente falando o equipamento que usamos não é capaz nem de alta performance e nem de se manter uma invariabilidade no seu estado ao longo de um dia.
Outro ponto muito importante que nunca vejo alguém abordar nesse meio de competições indoor, é o formato típico desse tipo de prova. Numa corrida “de verdade”, o tempo de treino é igual ou aproximadamente igual ao de prova. No nosso caso nos restam ínfimos 5 minutos de classificação para decidirmos se continuaremos com o kart que estamos ou não. Por incrível que pareça esses 5 minutos são suficientes em relação aos pneus atualmente empregados, os MG azuis. A diferença de grip entre frio e quente não é muito grande. Quem já pilotou os amarelos e os vermelhos do mesmo fabricante sabe do que estou falando. Assim sendo, às vezes algumas curvas são o suficiente para sabermos que o kart no qual estamos é bom de chão. Mas ninguem consegue avaliar o seu rendimento global antes de duas voltas completas.
Por fim há outro fator que é uma variável entre diversos pilotos. Na maioria das vezes em que dizemos que um determinado kart não é bom de curva, há duas possibilidades - ou o kart é ruim mesmo ou o piloto não se adaptou às tendencias do kart. Como o equipamento não é de alta performance, não é possível adaptá-lo à pilotagem, e por isso o piloto vai ter que se adptar ao kart. Em apenas 5 minutos. Na verdade isso é um autentico contrasenso da pilotagem em alta velocidade.
Posto tudo isso, tenho a dizer que na classificação estamos com a sorte contra nós mesmos. Se eu saio com um kart ruim, não vou ter como aproveitar tudo que posso dar no dia por um impedimento das regras. Antes que alguem diga que no Endurance é assim, eu digo que no formato antigo do Endurance Noturno, que era de 3 horas e meia, a equipe precisava dar apenas uma volta completa para realizar a primeira troca e restavam horas de competição depois disso e não alguns minutos.
Fora isso a má sorte de ser sorteado com um kart ruim jamais será compensada com a possibilidade de se conseguir um bom kart na prova seguinte. Para haver compensação seria necessário existir certeza na etapa seguinte ao invéz de sorte. Desse ponto de vista o resultado do critério não é injusto e nem justo, é totalmente aleatório. Na prática é uma ausencia de critério.
Para finalizar vou fazer uma conta com o resultado da minha participação na abertura do campeonato de 2010.
No meu grupo foram completadas 28 voltas em 23´ 6”, o que resulta em um tempo médio de volta de 49,5s. Como eu não podia trocar de kart percebi no início do qualifying que não terminaria entre os dez primeiros. Ao optar por uma troca durante a prova, fui eu que assumi o risco de pegar um kart pior, que foi o que aconteceu. Mas se tinha que trocar deveria ser antes de completar a primeira volta.
Para efeito de cálculo vou assumir de forma grosseira que uma troca leva mais ou menos o tempo de uma volta. Assim sendo eu retornei à pista em último quando os outros integrantes estavam completando a segunda volta. Restaram 26 voltas onde eu necesitaria zerar uma diferença de aproximandamente 49,5s, o que resulta em 1,9s por volta. Alguém aí tem uma sugestão inteligente para tirar 1,9s por volta com o equipamento que utilizamos?
Foi por isso que eu abandonei, não havia mais nada a fazer. Se eu fizesse outra troca bem sucedida e saísse com um foguete, poderia terminar a prova com tempos baixos uma volta atrás do líder. Isso não é competição.
No Mural de Recados, o Fábio Junqueira propõe a existencia de punição em pontos para quem troque o kart. Entre o que ficou estabelecido na primeira prova e essa idéia, a diferença é a intensidade da punição apenas. Nos dois casos estamos sendo punidos por fatores que fogem ao nosso controle.
Acho que devemos voltar ao formato habitual. Mas fica aqui uma dúvida a mais - o que faremos com essa primeira prova? Claro que os da frente querem os pontos integrais. Mas é bom lembrar que temos agora 2/3 da primeira fase para definir equilíbrio de performance em 2 grupos separados. E é óbvio que isso não é suficiente.
Até o momento em escrevo isso, as opiniões publicadas no site não somam a metade do grid. E os outros, o que pensam?
3 comentários:
Zézinho
Parou com 5 voltas completadas ? Porque não aproveitou para treinar ? Já se considera suficientemente "bom" para dispensar 20 voltas de treino ? Treinar com kart ruim é o ideal. Aprendemos a adaptar nossa precaria pilotagem a às pessimas condicões do tal kart ruim.É o treino ideal para brações como nós. Agora que é duro pagar R$ 120,00 para treinar enquanto os outros competem prá valer é duro.
Zé Ayres
Zé, essa estória de que o cara aprendende pilotando karts ruins é tão fantasiosa quanto branca de neve e os sete anões.
No meu caso não foi uma questão de performance inferior, e sim uma diferença de condições muito grande em relação a um kart equilibrado. O meu escapava a traseira demais.
Pilotar kart ruim é igual a escrever com caneta sem tinta. Ou arruma o kart ou troca.
Quanto à ideia de treinar enquanto os outros competem, isso é realmente é de doer porque nesse caso isso se dá por conta de uma escolha que não é sua e sim aleatória. Imagine que eu sou o maior pé frio da granja e passe o ano inteiro vendo os outros com os foguetes que nunca caem na minha mão. Então, eu piloto mal ou sou um baita azarado?
Zé
Como assim, não eram sete anões ? Branca de Neve não era branca como a neve ? Não entendi.
Escapar de trazeira ? Ou seja, a trazeira balançava ? Hum, sei não.
Faz mais de um ano que não sou sorteado com um kart campeão. Acho que eu é que sou o maior pé frio da granja.
Zé Ayres
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