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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Nos Bastidores do Automobilismo Brasileiro (8)


fragmentos do livro de Jan Balder e comentários do Amigos Velozes.

Êste que vos fala tem nas suas lembranças alguns nomes que foram marcantes na infância e que estavam relacionados às competições automobilísticas da década de 1960. Entre outros, Jayme Silva e Simca. Os automóveis da marca eram símbolo de elegância e conforto, tracionados por um pequeno motor de 8 cilindros cujo ruído característico até hoje está gravado na memória. Para os garotos da época Jayme era um nome que aliávamos à perícia na pilotagem de um carro que era considerado muito difícil de capotar e que foi muito utilizado em exibições de acrobacia.

A marca estêve presente nas pistas brasileiras e a fábrica participou com equipe própria numa época em que a rivalidade entre estas nas nossas competições ficou muito evidente. Segue um pequeno trecho do livro de Jan Balder, onde é lembrada a participação da marca nas competições. Foi um período de vale-tudo onde o importante era rivalizar.


A Simca, ainda com carros de turismo, evoluía e dava mostras de progresso. Fernando Lopes lembra das reuniões da equipe do presidente Pasteur toda terça-feira após as corridas: “A cúpula francesa exigia vitórias. Após uma corrida curta em Interlagos, chegamos bem perto dos Berlinetta da Willys, e todos ficaram animados para a próxima etapa. O chefe da equipe, Chico Landi, havia trazido seis comandos de vávulas da Argentina, e os carros foram aliviados ao máximo com o uso de chapas finas. A evolução ficara evidente. O câmbio passou a ser de quatro marchas, usando a carcaça original e retirando a marcha a ré. Segundo os calculos da equipe, a relação da primeira marcha mais curta 17/27 e o diferencial 9/43 era idal para Interlagos. Todos juraram vitória para o chefão Pasteur”. Eles foram para a pista sob os olhares de Pasteur e mais uma vez perderam do Interlagos da Willys, sob o comando do “esperto” Luiz Grecco, que, prevendo a concorrência, trocara o habitual motor de 1,0 litro pelo 1,3 do Alpine.

Na terça-feira seguinte, todos entraram cabisbaixos na sala do presidente Pasteur, que nem esperou para começar a falar: “Vamos trazer três Simca Abarth, um GT esportivo ´puro-sangue´ de motor 2,0 litros com quase 200 cavalos, e vamos acabar com a festa da Willys”. No dia seguinte, Ciro Cayres e Francisco Landi embarcaram para a Itália.

Para a corrida de estréia, os Simca Abarth não fizeram treino de classificação e largaram na última fila com Ciro Cayres no modelo de seis marchas e Jayme Silva no de quatro marchas.

Havia muita desconfiana no ar sobre a performance dos novos carros. No grid, os pilotos da Willis, Bird Clemente, Luiz P. Bueno e Wilson Fittipaldi Jr. apostaram que demoraria três voltas para os Abarth assumirem a liderança. Puro engano. Bastaram 2 km; antes da Curva 3, no retão, os dois bólidos vermelhos comandavam a corrida. Ciro Cayres quebrou e Jayme Silva venceu com folga.


Se há um período do nosso automobilismo em que o termo preparação ficou evidente, foi justamente esse acima lembrado. A preparação era livre, desde que o carro portasse o bloco de série, e também a carroceria podia ser aliviada ao máximo. A disputa feroz entre as fábricas colocou em evidência todas as marcas participantes. Os Simcas não eram um projeto esportivo e conforme o relato acima a fábrica resolveu marcar a sua imagem com um modelo importado. Tal era a diferença de engenharia entre os nacionais e o Abarth, que o pequeno V8 de 2350cc desenvolvia 80 cv na versão original de fábrica, enquanto que o Abarth com motor de 2 litros conseguia 192 cv e podia chegar à 255 km/h.

As vitórias do Abarth deram grande exposição à marca, que acabou colocando nos Simcas aqui produzidos um motor mais atualizado que nada mais era que o mesmo V8 mas com cabeçotes de câmara hemisférica com válvulas no cabeçote, que passou a desenvolver 130 cv. Essa versão raríssima nos dias de hoje ganhou o nome de Emi-Sul. O marketing das competições reverteu à favor da fábrica.

Apenas para lembrar a origem desses carros, a Simca adquiriu na década de 1950 a fábrica da Ford francesa na cidade de Poissy. Junto foi adquirido o carro projetado pela Ford com o nome de Ford Vedette que passou a se chamar Simca Vedette, o mesmo que foi aqui produzido com o nome Chambord. A americana Chrysler adquiriu a Simca francesa e mais tarde a fábrica brasileira também teve o mesmo destino. Acabava a produção do Simca brasileiro e essa aquisição originaria o terceiro automovel nacional equipado com motor V8, o Dodge.

2 comentários:

Unknown disse...

Zé, que saudades da Sinca. Sem sombra de dúvidas o carro mais bonito da época. Me lembro de uma propaganda que saiu nas revistas:
Numa página a Sinca #26 do Jayme Silva, sem parachoques toda suja ecom a seguinte legenda:"Você sabia que este carro é o mais bonito fabricado no Brasil?"
E na outra página, um Sinca igual, mas com parachoques, calotas, limpo, reluzente, com a legenda:
"E que este é o mais bravo?"

Zé Clemente disse...

Pedro, na minha opinião a propaganda faz juz ao carro. Eu acho que o Simca é até hoje o carro mais bonito que já se fabricou no Brasil. Quem andou num desses naquela época, não esquece mais. É um grande clássico.