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sábado, 3 de abril de 2010

USF1 - promessa americana morre na praia. E tem gente que mete o pau no Copersucar.



Sem dúvida nenhuma a aventura mais desafiadora do homem moderno foi pousar na Lua e retornar à salvo ao planeta de origem. A meta foi lançada em discurso pelo presidente John Kennedy e fixava como prazo “antes do final da década”. E assim aconteceu. Foi uma aventura espetacular, cheia de desafios, que acabou provando que na Nasa há pessoas comprometidas com as suas atividades e que levaram a sério o desenvolvimento de um dos mais complexos planos tecnológicos da história.

Mas a Nasa é uma estatal que pode contar com verbas do governo que, apesar de serem abundantes, precisam ser bem empregadas para que mostrem resultados coerentes com o volume do investimento.

A Fórmula 1 que é outra atividade onde a tecnologia se destaca pela incrível sofisticação, está no roll da iniciativas que precisa se auto-justificar para não morrer na praia. Como uma atividade que emprega sofisticações de projeto, de construção, de gerenciamento e veiculação, é de se esperar que a organização que esteja por trás siga um padrão de excelencia dos melhores, o que de fato acontece. A organização dessa categoria é hoje o que lhe mantém em condições de atuar.

Porém não começou exatamente assim e o lendário Frank Williams é remanescente da época dos garagistas que com poucos recursos tecnológicos e funcionários dedicados e apaixonados, conseguiam colocar na pista os carros mais velozes do mundo.


A equipe Copersucar Fittipaldi é outro exemplo dessa era em que a F1 admitia gente que principalmente tinha genialidade e força de vontade para concretizar um projeto. Tanto é verdade que a equipe dos irmãos Fittipaldi iniciou as suas atividades aqui mesmo na zona sul, onde eu moro, empregando uma maioria de funcionários brasileiros que iriam se adaptar às condições, um engenheiro genial que ainda está no ramo das competições, e fornecedores nacionais e estrangeiros.

Saiu do papel e da garagem em 1975 e fechou as portas na Inglaterra em 1982, devendo os tubos e com a imagem rasgada como papel sucateado. Ao todo participou de 104 GP´s. Teve entre os seus pilotos um campeão mundial e outro que se tornaria campeão mais tarde em outra equipe, gente de tradição no meio como Jo Ramirez, marcou pontos e obteve um segundo lugar no Rio como melhor finalização. A inconstância e a frequencia de resultados ruins alimentaram as piores críticas, sejam elas do público ou da imprensa. Mas estão lá na galeria dos que se aventuraram e marcaram a sua presença.

Hoje a F1 é um outro mundo muito diferente e muito mais oneroso e para se ingressar no meio é necessária uma quantidade imensa de dinheiro. Os irmãos Fittipaldi não tentariam outra vez uma investida dessas pois nem conseguiriam dar o primeiro passo.

Mas a comunicação da USF1 de que fechou definitivamente as portas, embora Peter Windsor ainda alimente a possibilidade de um retorno, mostrou que a categoria tem duas características da antiga era dos garagistas. Uma é a de estar aberta ao ingresso de gente sem tradição no meio. A outra é a de ser um ambiente de competição no nivel mais extremo da modalidade onde apenas o fato de estar presente no grupo já pode ser considerado um passo muito grande. E nesses ambientes extremistas um erro dos menores pode sepultar sem piedade um sonho que demorou muito a ser concretizado.

Penso que Peter Windsor se esqueceu de considerar os exemplos mal sucedidos da F1 e acreditou que o planejamento da sua atividade, assim como os relacionamentos que tinha no meio, seriam o suficiente para atrair as verbas que lhe colocassem no grid, mesmo que fosse em condições muito desfavoráveis como a Hispania.

Mesmo nesse mundo altamente tecnológico de hoje a cabeça do empreendedor pode influenciar mais o resultado final do que o seu mais genial técnico. Não há scripts a serem seguidos. As normas são imitadas e as regras obedecidas. Mas a chave do sucesso de qualquer empreendimento está no plano do imponderável no momento em que se está dando o passo incial. Não basta apenas saber o que é necessário, quem conhece a matéria,o quanto custa e quanto tempo demora. As investidas pessoais, por mais planejadas que tenham sido, por mais detalhadas sejam as suas ações, sempre estão sujeitas a fracassar de forma inesperada apesar do empenho que tenha existido para que se estabelecesse. E eu penso que a USF1 padeceu precisamente da segurança de que o empreendimento era tão ousado que isso seria o motivo para atrair investidores em busca do marketing aliado a uma idéia ousada.

Na vida, faça-se o que bem imaginar, use-se o melhor da inteligencia, empenhe-se a maior boa vontade possível, resista-se ao máximo às dificuldades, os resultados de qualquer plano muito bem elabrado podem se transformar num fracasso imenso porque simplesmente não há ou haverá um script que ensine alguém a viver. Os irmãos Fittipaldi são um belo exemplo. Começaram com um objetivo, sem nenhum script, e fizeram muito mais do que esta que acabou de fechar as portas e também de outras que nem conseguiram classificar carros para uma largada. Idealizar é uma coisa, acontecer outra muito diferente.

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