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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O nosso automobilismo - como um chassi torcido de um fusca

Não me lembro bem quando achei no meio das minhas fotografias, uma tirada na arquibancada do autódromo de Interlagos bem em frente aos boxes. Era o momento das voltas finais de mais uma edição da Mil Milhas Brasileiras. Me lembro ainda de duas coisas daquela prova que me marcaram. Havia um Opala sem o capô e Camilo Cristófaro, o Camilão, falou na fonia local ressaltando que o seu filho, o Camilinho, teria chances de chegar à vitória. Bons tempos aqueles do antigo traçado e arquibancadas com público amante dos esportes de velocidade.

Estou falando do início dos anos 80, época em que o nosso grande campeão Émerson Fittipaldi já estava arrumando malas para brilhar novamente no exterior, dessa vez nos Estados Unidos. Por sinal nunca é demais lembrar que foi o pai dele, Wilson Fittipaldi, o Barão, que junto com Eloy Gogliano criou essa belíssima disputa automobilística inspirado na Mille Miglia italiana.

Hoje nada mais resta desse trepidante passado que nos atraía constantemente ao autódromo. Me lembro muito bem que era comum na minha juventude dizer aos meus amigos num sábado: “Vou no autódromo”. Sempre havia algo a ser visto, sempre estava acontecendo alguma coisa.

A Mil Milhas era realizada na semana da comemoração do aniversário da cidade de São Paulo. No ano passado deu-se uma programação que incluía os 1000 Km de Interlagos, endurance que aconteceu uma boa parte sob chuva e que foi vencido pela Ferrari de Chico Serra, Daniel Serra e Chico Longo, Equipe Via Itália. Fiz postagem a esse respeito que inclui uma foto da tristonha arquibancada totalmente vazia. De público mesmo, apenas os que estavam na pista, nos boxes e na lanchonete. Por sinal uma lanchonete dentro dos padrões atuais desse tipo de comércio mas que não lembra em nada a romantica lanchonete do passado com balcão de cimento. Era lá que voce encontrava os maiores nomes do nosso automobilismo comendo sanduíches com os seus mecanicos.

Nesse ano a FASP anunciou (e ainda constava nesta manhã no seu site) a realização da prova 1000 Km de Interlagos. Porém, não apenas eu tinha sido notificado por um amigo de que a prova foi cancelada, como tambem li em dois sites na internet sobre o cancelamento. Segundo apurei, as inscrições foram devolvidas e o cancelamento se deu por insuficiencia de inscritos. No entanto a programação do final de semana prosseguiu e foi realizado o torneio F3 Brazil Open, com vitória do piloto Lucas Foresti. (leia aqui: F3 Brazil Open)

Não estive em Interlagos nesse final de semana mas entendo que se na F3 havia apenas 9 competidores, na arquibancada não havia ninguem, ainda mais quando se tem uma parte da programação cancelada.

A arquibancada do autódromo de Inerlagos em Janeiro de 2010 durante os 1000 Km de Interlagos

Se fala correntemente uma coisa que é nada mais que uma triste realidade, que o nosso automobilismo está morrendo. É uma verdade, está agonizando e não será uma categoria como a Stock Car que vai representar sozinha o automobilismo nacional. Nem tambem F-Future Fiat ou outra formação similar.

Se o automobilismo brasileiro quizer sobreviver vai ter que começar descobrindo o que é necessário para trazer o público de volta para as arquibancadas. Ah, mas tem público na Stock, diriam muitos. Sim, há público nessa categoria, mas no passado havia público em todas. O que temos de automobilismo atualmente nada mais é que o aproveitamento da agenda do autodromo de Interlagos para provas de apaixonados guiando carros clássicos, e endinheirados que podem pagar os tubos para por na pista um carro que apenas ele, sua equipe e os concorrentes verão em alta velocidade.

Eu diria hoje que o nosso automobilismo nada mais é que um fusquinha de chassi torcido que teima em fazer curvas mesmo sabendo que nem em linha reta consegue mais andar.

3 comentários:

Orlando Belmonte Jr. disse...

Zé , estamos todos indignados com que vem acontecendo no nosso automobilismo , temos que nos manifestar, você esta fazendo a sua parte , parabens pela postagem .

abs

Zé Clemente disse...

Orlando, no calendário da Mahle de 2011 tem um texto do Chiquinho em que ele cita Jacarépaguá. Lá a coisa é mais feia, o autodromo foi simplesmente sepultado. Tenho a opinião que o nosso automobilismo (ou o q restar dele) vai migrar definitivamente para o sul do país. Por aqui, acho que nao vai restar nada aprovetável.
Abraço

João Carlos Bevilacqua disse...

Zé, a história (com "H") da primeira participação da lenda Bird Clemente nas Mil Milhas, envolvendo também o Barão e o Wilsinho é simplesmente hilária. Você conhece?